quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

POLÍTICA: As palhaçadas de um Grillo


Uma das principais razões para o resultado comprometedor da esquerda italiana nas eleições desta semana foi um fenómeno igualmente presente na sociedade portuguesa: a equação políticos = corrupção.
Beppe Grillo conseguiu através de um tipo de discurso antipolíticos e anti partidos bloquear qualquer solução de governabilidade da Itália com as consequências, que se adivinham. Infelizmente o seu discurso encontrou eco numa camada de jovens dissociados de qualquer preocupação ideológica, e nos que, mais velhos, já viram tanta promessa esgotada em sucessivas campanhas eleitorais, que se tornaram permeáveis  a um tipo de lógica terrorista baseada na ideia da terra queimada sobre cujas cinzas se poderão forjar possibilidades de ressurreição.
A exemplo dos anarquistas do século passado, que, mediante o mesmo propósito em desconstruir todas as ideologias e propostas políticas, abriram espaço para a afirmação dos movimentos fascistas, o sucesso de Beppo Grilo inscreve-se na mesma tendência, que explica os fenómenos Aurora Dourada na Grécia, Frente Nacional em França ou  Jobbik na Hungria. Não se assumindo como de extrema-direita, possui, porém, os ingredientes ideológicos, mesmo mascarados de avessos a eles, que caracterizam tais movimentos antidemocráticos.
É por isso que, intramuros, sempre contrariei as argumentações de quem, mesmo supostamente apresentando-se como de esquerda, tanto contribuíram para o sucesso das campanhas contra o Governo de José Sócrates, nomeadamente através da exploração até à exaustão do exemplo de Armando Vara. Assim como  olho, atualmente, com natural suspeição para a ação  de Paulo Morais e da sua Associação Transparência e Integridade, que encarnam objetivos semelhantes ao endossarem a todos os políticos um manto de suspeição. Espanta-me o entusiasmo com que, nas redes sociais, gente que se afirma alinhada com o PCP, com o BE e com o PS se apresta a divulgar as mensagens de tal gente, esquecendo a ligação desse mesmo Paulo Morais, que foi vice-presidente da Câmara do Porto pelo CDS.
Se existem casos bem fundamentados de  corrupção por parte de gente oriunda do cavaquismo,  ou na corte de Alberto João Jardim, que justificam algumas dessas suspeitas, é injusto, imoral e profundamente reacionário  generalizar tal atitude a toda a classe política. Sobretudo, porque não se pode comparar a ética com que a generalidade dos responsáveis dos partidos de esquerda assumem responsabilidades perante os seus eleitores, em contraponto com o larvar oportunismo e arrivismo evidentes na maioria dos políticos de direita. Comparar Ana Drago ou João Galamba com os inconcebíveis Luis Meneses ou Francisca Almeida, é o mesmo que considerar a água cristalina do óleo sujo que a tenta contaminar. Enquanto aqueles denotam evidentes preocupações de cidadania, os dois últimos denunciam uma participação na política enquanto forma de terem emprego que, de outra forma, lhes seria bem mais difícil encontrarem com sucesso nas suas competências profissionais.
É por isso que, quando se fala de corrupção da classe política deveremos ter sempre a preocupação de a  contestar, por se circunscrever a uma minoria relativamente à qual se deverá exigir uma maior vigilância das entidades de regulação, essas sim a verem os seus poderes reforçados para inviabilizarem recorrências das situações, que redundaram no BPN ou nas negociatas de Duarte Lima.
O sucesso de Beppe Grillo corresponde, pois, a uma enorme derrota dos italianos, que julgaram possível a salvação através de gente até agora desconhecida do cenário político.
Na realidade rostos novos não significam necessariamente ideias novas, nem, sobretudo, gente impoluta. A ocasião faz o ladrão e cá estaremos para constatar os casos de manifesta corrupção por parte das novas vedetas do Movimento Cinco Estrelas, se este for mais do que um fenómeno fugaz, uma espécie de cometa nos céus, que surge muito brilhante, mas não tardará a desaparecer nas anónimas profundezas dos mistérios siderais...

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