sábado, 2 de fevereiro de 2013

POLÍTICA: Mais marés que marinheiros!


Há alguns dias atrás, no blogue, considerei uma coincidência feliz ter visto o «Ricardo II» do Shakespeare no mesmo dia em que se prefigurava a contestação ao secretário-geral do PS e à mudança de orientações políticas do partido.
Foi, por isso, com um sorriso cúmplice, que li a crónica de Fernanda Câncio no Diário de Notícias de ontem. Porque a forma como descreve o sucedido na noite de terça-feira foi, de facto, o de uma coisa shakespeariana: um rei fraco rodeado de lugares-tenentes aos gritos de deslealdade e conspiração ante o anúncio de uma pretensão ao trono, uma reunião à porta fechada e um final em que o monarca, depois de chamar e deixar chamar tudo a quem possa pô-lo em causa, abraça o concorrente que não chega a sê-lo e assume o compromisso de com ele trabalhar em prol da união do reino.
Em Shakespeare, como em geral, o pano nunca cai depois de uma cena destas. É só o princípio da intriga e de sangrentas congeminações que inevitavelmente nos revelam a natureza das personagens e da sua relação com o poder.
Porque a admiração pelo dramaturgo inglês só vai crescendo à medida da sua evidente atualidade, também subscrevo a expetativa da jornalista: é que, quase sempre, nas suas peças o poder fraco acaba mal, vergando-se às inevitáveis correntes históricas contra as quais procurou impor travão.
Como diz o ditado. Há mais marés que marinheiros!


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