sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

DOCUMENTÁRIO: »Gerhard Richter Painting» de Corinna Belz (2011)



No âmbito do festival Kino, que está a decorrer em Lisboa, tivemos a oportunidade de ver o excelente documentário, que Corinna Belz rodou em 2009, enquanto Gerhard Richter preparava as telas destinadas a uma exposição aprazada para uma das mais importantes  galerias nova-iorquinas.
Estamos assim convidados para mais de hora e meia de testemunho do processo criativo de um artista, que se recusa a encarar a tela com perspetivas apriorísticas, já que pintar já é em si o próprio pensamento. Ele confessa, aliás, que julgara provável a aposta em cores claras, mas o resultado saldara-se por um conjunto de obras maioritariamente dominadas pelo cinzento, cor frequente na sua obra, primeiro porque a ela chegou através da fotografia a preto-e-branco, mas depois autonomizada dessa influência para valer por si. Richter reconhece que pintar é deixar-se conduzir pela própria tela, como se aceitasse dela as orientações, que comandam os seus braços.
É claro que o filme é pouco elucidativo sobre períodos mais recuados da obra de Richter, e nomeadamente pelas razões que o levaram a trocar, em 1961, a antiga Alemanha de Leste pelo vizinho ocidental, com a consequência incontornável de nunca mais se poder encontrar com a família deixada para trás. Mas não era intenção de Corinna Belz assegurar essa perspetiva global de um percurso de mais de sessenta anos de produção laboriosa e com vários ciclos criativos . O que esteve na génese do documentário foi a construção da obra nesta fase tardia da vida de Richter, com o abstracionismo a impor-se como método e distribuições quase aleatórias das cores e pinceladas e sua redistribuição com réguas de grandes dimensões. Sem esquecer as raspagens, que devolvem à superfície as tintas entretanto cobertas por outras camadas posteriores.
Muito embora se confesse constrangido pela invasão permanente das câmaras, Richter não deixa de concluir em jeito de síntese, que o ato criativo não deixa de ser extremamente divertido. Por muito que se revele exaustiva essa permanente sucessão de eventos sociais para que se torna obrigatória a sua presença.
Custos de ser um dos principais artistas do nosso tempo!

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