quarta-feira, 18 de setembro de 2013

LITERATURA: Don Delillo e o recurso das palavras

Até 1978 a obra de DeLillo recorre à sua cultura livresca. Mas entre 1979 a 1982 o escritor vive na Grécia e viaja pelo Médio Oriente. então sacudido pelos efeitos da revolução islâmica no Irão. A sua obra tomará, então, novas direções em função de um aparente caos internacional aonde falham as pistas de interpretação mais evidentes.
Em «The Names» (1982) somos convidados a sobrevoar uma vasta paisagem multinacional. Axton parte como “analista de riscos” num Médio Oriente onde cada empresa norte-americana passou a ser uma vítima potencial do terrorismo. Noutra vertente, ele conta reconciliar-se com a mulher, que trabalha num campo de prospeção arqueológica numa ilha grega.
O chefe desta missão arqueológica, Owen Brademas, entretém-se a decifrar um fio lógico num conjunto de atentados (ou de crimes rituais?) cometidos em diversas cidades da região e aparentemente relacionados com o alfabeto, de que o romance traça a lenta evolução desde a Suméria.
Desde início, a linguagem terá sido o tema e, ao mesmo tempo, o instrumento de Don DeLillo: a linguagem, a tradução que nos faculta do caos existente à nossa volta, e a precaridade dessa ferramenta.
Owen Brademas  crescera numa aldeia perdida no Kansas profundo onde o pastor metodista encorajava as suas ovelhas a deixar emergir o que escondiam nas profundezas da alma numa jaculatória pentecostista.
Durante a infância, Owen vivera no temor do seu eu recalcado e na possibilidade de o ver emergir num turbilhão de desvarios, que o arrebatasse como se se tratasse de um daqueles tornados tão frequentes nessas grandes planícies.
Perante o perigo de tal oralidade, ele procurara como solução ocupar a vida adulta na decifração de inscrições gravadas nas rochas antigas: elas correspondiam a uma espécie de talismã contra o terror.
Nesta obra DeLillo explora os dois limites em que a linguagem oscila: um murmúrio de borborigmos primitivos ou o quase apagamento de criptogramas na fronteira do silêncio.
“Arte marcial aborígene”, a linguagem é a nossa mais antiga defesa contra o caos. E o caos não é mais do que a morte que filtra e ameaça: é preciso iludi-la a cada instante. É esse o tema de «White Noise» (1984) onde um ecrã da televisão passa e volta a repetir, em câmara lenta, uma catástrofe pela qual uma nuvem tóxica ameaça uma pequena cidade.
Face a essa exposição ao risco, à degradação entrópica, o universitário Jack Gladney encontra uma escapatória no fascínio hipnótico, que sente pelos discursos do führer e pelos hinos do III Reich.


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