O crime que Aguiar Branco está prestes a consumar com a destruição dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo não é originalidade nacional. Noutros países europeus a mesma política de destruição do conhecimento e da experiência de gerações de operários especializados num qualquer setor de atividade é concretizada por gente apenas obcecada pela ditadura dos interesses financeiros. Como Angela Merckel! Porque este documentário de Dieter Schumann mostra como um dos mais apetrechados estaleiros alemães é destruído em nome desses mesmos interesses.
O filme acompanha as angústias, os medos e o conformismo das vítimas durante um ano em que transitam de uma vida digna, e com aspirações a ainda melhorar, para a precariedade e a miséria.
A cidade de Wismar na costa báltica vivia da atividade desenvolvida no maior empregador da região: os estaleiros navais Wadan, que garantiam o sustento direto de mais de quatro mil famílias e o de muitas mais ocupadas nos negócios a montante, a jusante e colateralmente a tal atividade. Mas, apesar de uma bem recheada carteira de encomendas, abriu falência e tornou-se num alvo apetecível dos investidores especulativos.
Ouvidos pelo realizador os soldadores confessam a preocupação com os encargos, que ainda têm com a compra do apartamento ou do carro em que nunca teriam apostado se imaginassem o molho de brócolos em que então se passam a ver.
Mas, porque o medo é o melhor aliado do patronato, poucos são os operários, que comparecem às ações de protesto convocadas pelas estruturas sindicais.
Ainda assim, quando o administrador da insolvência tenta explicar a mil e quatrocentos trabalhadores o que passará a suceder a partir de então - e já com a atividade completamente suspensa - a reação é virulenta. Mas o que os rostos refletem é a enorme preocupação, que todos ostentam. A maior parte são homens entre os 40 e os 55 anos, que já não conseguirão qualquer solução alternativa no mercado do trabalho. E todos estão cientes que, mesmo conseguindo encontrar emprego na nova empresa, que substituirá a Wadan nos estaleiros locais, terão de prescindir da antiguidade, da segurança e até de uma parte do salário.
Os novos proprietários são acionistas russos, que se comprometem a garantir o emprego a metade dos trabalhadores da Wadan, mas não cumprem o prometido: dos quatro mil operários apenas novecentos conseguirão novo vínculo e, mesmo assim, um terço deles a tempo parcial. Um operário, que outrora ganhava entre 1100 e 1200 euros, passou a levar para casa ao fim do mês, apenas 700 ou 800, manifestamente insuficientes para preservarem o tipo de vida humilde, que já era antes o seu.
Em conclusão, o filme é pessimista quanto á capacidade de inflexão das consequências da crise financeira e da globalização na atividade industrial europeia. Mas fica a pergunta: por quanto tempo mais irão os operários suportar uma pauperização, que os leva abaixo do limiar da mera sobrevivência?
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