quinta-feira, 26 de setembro de 2013

IDEIAS: os limites da Democracia na Antiga Atenas

Nos últimos dias as grandes manifestações, que decorrem na Grécia contra os crimes dos nazis da Aurora Dourada, adotam amiúde o argumento de não se poderem tolerar comportamentos fascistas na pátria onde nasceu a Democracia.
Passados quase dois milénios e meio o modelo ateniense continua a constituir um maravilhoso exemplo de como se alcançar a igualdade entre os cidadãos.
Sendo uma atividade nobre, a política deveria ser aí vista como a expressão da entrega do individuo á causa da comunidade. Não surpreendia que, então, os serviços públicos fossem custeados pelos mais ricos, que existisse uma espécie de rendimento mínimo garantido (o misthoi) para os mais desvalidos e que as funções públicas não fossem remuneradas: os estrategas não recebiam qualquer pagamento da Cidade e deviam prestar contas muito precisas no final do seu mandato.
Apreciar-se-á a dupla preocupação em manter a solidariedade económica e suprimir a venalidade dos cargos.
Mas como toda a moeda apresenta duas faces, convém lembrar que esse necessário desinteresse dos candidatos pelos proveitos das funções executivas mais relevantes, pressupunha ser-se detentor de uma fortuna suficiente para suportar um ano de empobrecimento suscitado pelo exercício de tais responsabilidades.
Daí que seja inútil abordar a fortuna de um Péricles, que durante vinte anos foi eleito para os cargos mais importantes da Cidade, no que demonstra bem os limites dessa pretensa igualdade entre os cidadãos. Todos os cidadãos eram iguais, mas alguns eram, de facto, mais iguais do que outros.
Quanto aos princípios dessa mesma igualdade exercida pelos cidadãos na Agora, também se verificava um claro desajustamento entre a quantidade e a qualidade dos votos aí expressos.
Seriam os cidadãos ouvidos equitativamente pelos senadores? Seria fácil tomar a palavra numa Assembleia? Argumentos justos, mas expostos inabilmente, conseguiriam prevalecer apenas pela evidência da sua justiça?
A chegada dos Sofistas, que eram professores de Retórica, iria contribuir para a denúncia dessa desigualdade entre os cidadãos?
De acordo com a lei cada um podia tomar a palavra, mas só os oradores profissionais conseguiam ser ouvidos. Mas quem eram eles? Quem eram esses jovens atenienses bastante prolixos em palavras e com uma assinalável capacidade de persuasão para conquistarem novos aderentes à sua causa?
Eles eram os representantes de uma juventude opulenta capaz de alugar os seus serviços aos professores mais ilustres e eficazes?
Numa obra que consagra aos grandes Sofistas da Antiguidade, Jacqueline de Romilly afirma que esses professores de retórica eram verdadeiras celebridades na Atenas de então.
Os Sofistas não davam grande importância ao conteúdo dos seus discursos. A sua atenção privilegiava a forma  de os tornar mais convincentes. Protágoras não ensinava os alunos a discernirem o justo do injusto, mas antes a tornarem mais sedutor o seu enunciado.
A arte oratória não se compromete, pois, com a verdade e a sabedoria, limitando-se à condição de uma técnica, de um saber, que nada tem a ver com sabedoria em si...


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