Em maio transato a edição portuguesa de «Le Monde Diplomatique» publicou um excelente artigo de Serge Halimi intitulado «Balanço para preparar uma reconquista». Porque questiona a opção dos governos europeus pela austeridade e a urgência em mudar de rumo, vale a pena regressar a ele como forma de acrescentarmos substância à nossa própria argumentação contra o presente estado das coisas.
Constata Halimi: ao mito da mobilidade social sucede o medo da desqualificação social. Um operário já não tem grandes hipóteses de se tornar patrão, jornalista, banqueiro, professor universitário ou responsável político.
Se até recentemente era possível olharmos para os nossos filhos sabendo-os - graças aos estudos universitários - integráveis num degrau superior da escala social, a realidade atual tende a negar a continuação dessa evolução. Hoje os jovens licenciados não encontram emprego estável nem compatível com a sua elevada formação, sendo convidados a emigrar. Mas, pior ainda, a eliminação da classe média e o brutal aumento das propinas voltará a fazer das universidades estabelecimentos apenas acessíveis aos mais ricos.
No seu artigo Halimi dá o exemplo de um jovem estudante norte-americano, que viu transformar-se em pesadelo aquilo que começara por ser a expressão do seu sonho de progressão social: Devo 75 mil dólares. Em breve serei incapaz de pagar as minhas prestações. Como o meu pai é meu fiador, vai ser obrigado a pagar a minha dívida. Também ele irá à falência. Portanto, eu terei arruinado a minha família por ter querido elevar-me acima da minha classe.
Temos, pois, um exemplo eloquente de como o sonho americano de transitar da pobreza para a riqueza, acabou por resultar no seu contrário.
No entretanto, os proprietários da cadeia de distribuição Walmart que, há trinta anos, possuíam 61 992 vezes a riqueza média americana passaram a deter atualmente 1 157 827 vezes mais.
Estamos, pois, a chegar a um ponto de rutura do capitalismo, muito próximo do constatado por Marx como passível de gerar as condições para uma Revolução!
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