segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POLÍTICA: ainda a ressacar!

A grande questão que se punha no fim da noite de ontem era esta: e agora? Irá mudar alguma coisa?
Claro que surgiram logo uns quantos a afiançarem nada mudar, desde passos coelho a garantir que continuará a escavar ainda mais o buraco aberto desde o seu assalto ao pote, até à generalidade dos comentadores ouvidos na televisão. E o próprio cavaco silva, ainda as eleições estavam a decorrer, prometia mais do mesmo, desvalorizando o exemplo de António Guterres em 2001 e dissociando o carácter local das escolhas das que pudessem ter significado nacional.
Nada, pois, que nos leve a espantar. Também Galileu deu com umas quantas mentes cristalizadas, que apostavam na imutabilidade dos objetos, quando ele já sabia de antemão que eles moviam-se sem parar.
A chatice para passos e para cavaco é que, não só a realidade está mesmo a mudar, mas ainda por cima em sentido contrário ao dos seus desejos.
Gostaríamos que ela fosse mais acelerada na sua transformação? Claro que sim! Mas ela dá mostra de tendências, que não podemos ignorar.
A primeira é a de uma resiliência do ideal comunista tal qual o divulga o PCP. O avanço eleitoral do partido de Jerónimo de Sousa até nem foi tão expressivo, quanto o do aumento das autarquias em seu poder - mantém-se num patamar entre os 10 e os 12%, que o torna peão importante na evolução dos acontecimentos, mas diminuída na sua influência pela limitação progressiva do impacto organizativo do seu aparelho sindical. Infelizmente, e até com a ilusão propiciada por estes resultados eleitorais, os comunistas tenderão a entrincheirar-se cada vez mais nos seus bastiões sem se revelarem úteis para uma plataforma de esquerda capaz de promover uma transformação profunda na sociedade portuguesa.
A segunda está na grupuscolização dos partidos mais pequenos: quer o Bloco de Esquerda, quer o CDS denotam grandes dificuldades em se afirmarem num futuro aonde se tornará provável a federalização de tendências à esquerda e à direita em grandes blocos políticos. Mesmo ganhando o prémio de discurso mais ridículo da noite (quem disse que o ridículo mata enganou-se ou já estaríamos hoje a acompanhar o seu féretro!) paulo portas terá muitas dificuldades em evitar nas próximas legislativas o destino dado pelos eleitores alemães a outro FDP.
Quanto a João Semedo e Catarina Martins, estarão a comprovar a impossibilidade de infletir a curva decadente aberta por Louçã com a sua participação no chumbo do PEC IV.
Noutro momento histórico o Partido Socialista soube identificar a importância de uma outra formação política igualmente minúscula em reação à qualidade dos seus membros e integrou no seu seio os antigos militantes do MES, entre os quais se contaram Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e outros quadros políticos, que se revelaram grandes dirigentes seus. Houvesse agora a mesma abertura então demonstrada por Mário Soares e Jorge Sampaio e talvez o PS conseguisse enriquecer-se com bloquistas de excelente qualidade e cujas ideias tanta falta fazem a um partido tão delas minguado.
A terceira tendência tem a ver com o aparente crescimento de um discurso antipartidos como o enunciado por Rui Moreira, mas outros exemplos idos - de que o partido eanista foi lapidar concretização - demonstraram a fatuidade de propostas supostamente regeneradoras, que acabam por fenecer com surpreendente rapidez.
E ainda salientemos a quarta tendência representada pelos desastres eleitorais do PS em Braga e em Matosinhos e o do PSD na Madeira, no Porto e em Lisboa: na sua insuspeitada sageza, os eleitores têm a frequente lucidez de destroçar quem entende o poder como coisa sua e não propriamente resultante da delegação de confiança de um coletivo tão capaz de emotividade, quanto de racionalidade. Mesmo que o caso específico de Oeiras tenda a cumprir o ditado de toda a regra contar com a sua exceção.
Quem disse que, depois de ontem, ficou tudo na mesma?


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