O romance policial italiano costumava chegar aos nossos escaparates com alguma frequência, quando o género merecia coleções a ele inteiramente dedicadas. O que deixou de acontecer e explica o desconhecimento que Bruno Morchio suscita nos portugueses fascinados por esse tipo de literatura.
Nascido em 1954, em Génova, Morchio começou por ser psicólogo e psicoterapeuta, dedicando-se à escrita nas horas livres.
Os primeiros romances, «Maccaia» e «La crêuza degli ulivi» penaram para encontrar editor disposto a integrá-los nos seus catálogos. Mas, em 2000, uma pequena editora aposta em «Bacci Pagano. Una storia da carruggi» e o sucesso é imediato e inesperado, obrigando a sucessivas reedições. E à publicação dos romances anteriores.
O protagonista é um detetive genovês, irónico e desiludido, que aprecia ouvir Mozart, o bom vinho e a boa comida. No entanto, divide esse protagonismo com a cidade em si, os seus prédios em ruínas e uma população onde predominam os artesãos, os reformados, os imigrantes e as prostitutas. A história tece-se em torno da investigação de Baccio Pagano a uma guerra comercial e de lavagem de dinheiro, que coincide com o pedido de um velho amigo para que descubra quem lhe roubou uma espingarda antes da visita do primeiro-ministro à cidade. É que teme vê-la utilizada no atentado em preparação contra tal governante.
«Maccaia» começa com a descoberta do corpo de um reformado nos arredores da cidade, meio devorado por um lobo. Dois anos antes ele subscrevera um vultuoso seguro de vida tendo por única beneficiária a sua jovem esposa. Contratado pela companhia de seguros, Bacci Pagano vai-se deixando guiar pelos seus preconceitos e pelas aparências em vez de se cingir às evidências objetivas.
Em «Con la morte non si trata» (2006) Pagano vai até à Sardenha com a sua Vespa PX200 para procurar o filho de um prisioneiro, que se recusara denunciar os cúmplices apesar de eles terem dividido entre si o produto do roubo. Para o detetive a investigação poderá propiciar-lhe umas férias merecidas à beira-mar. Ou dar-lhe o ensejo de reencontrar a filha, a quem não vê desde a separação da ex-mulher. Ou ainda pô-lo em sérios perigos como de costume…
Em «Le cose che non ti ho detto» (2007) , Pagano sente tentações de se escusar ao pedido de Mara, que tão importante fora no seu passado, e agora lhe pede ajuda para o Gigante, ou seja o psicanalista Nicholas Ingroia. É que já o conhecera vinte anos antes, quando investigara a morte de um seu paciente na Tailândia. Entre o passado e o presente, desde o Extremo Oriente até às ruas estreitinha de Génova, Pagano tem de mostrar a sua tenacidade num caso em que o ódio e o desespero contrabalançam a inteligência e a razão, quando se trata de desvendar o que é verdadeiro.
Desde então, Morchio tem publicado sucessivos títulos, com o mais recente, «Il profumo delle bugie» (2012) a dissociar-se do género, optando por um estilo divertido e quase grotesco para descrever o ambiente em que vive uma família abastada em vésperas do Natal. Os Aste são, de facto, uma das principais linhagens de Génova não só pela riqueza acumulada, mas sobretudo pelo seu conúbio com o poder político. Edward, o velho patriarca, domina a estirpe, muito embora esteja desavindo com os filhos, preferindo-lhes os sobrinhos. O que dá espaço de manobra para que as mulheres procurem encontrar os pontos de equilíbrio.
Pelos exemplos aqui abordados dá para perceber que Morchia merecia que dispuséssemos dos seus romances em traduções para a língua portuguesa.
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