sábado, 7 de setembro de 2013

EXPOSIÇÃO: «O Nu de Gauguin a Bonnard. Eva, ícone da modernidade?» (2)

A herança de Gauguin e a sua perceção do “paraíso terrestre” continua a influenciar a nova geração de artistas, que a viragem do século XIX para o século XX revelará: Derain, Matisse, Manguin, Rouault ou Friesz ostentam nas suas paisagens animadas de figuras, uma visão profundamente arcadiana, quer inspirada em Cézanne, quer em Gauguin.
Picasso com o seu «Nu em fundo vermelho» propõe uma forte e inovadora formulação onde o corpo de expressão primitiva (a lembrar Gauguin) faz figura de pioneiro e concentra então todos os olhares.
Este nu, de formas imponentes, é um arquétipo da mulher, que ele jamais deixará de desenvolver, porquanto o nu confunde-se com a própria natureza da pintura.
Por seu lado Le Douanier Roussseau coloca a sua Eva em harmonia com uma natureza primordial, exótica e imaginária.
Rousseau utiliza o vocabulário simbólico presente na pintura desde o século XVI conservando todos os elementos da citação bíblica: Eva, a serpente e a maçã.
Entre 1905 e 1914 o corpo pintado ou esculpido ganha formas mais profundas. Assim houve quem mergulhasse numa imagem das origens para inovar à maneira de Gauguin e de Baudelaire, que desejaria mergulhar a fundo no desconhecido para encontrar o verdadeiramente novo.

No período entre as duas guerras a evolução individual de artistas como Bonnard, Matisse, Picasso ou Chagall ganha contornos singulares. O último retomará a representação religiosa abandonada desde 1910 e será bem sucedido com essa opção.
O surgimento do ideal surrealista no final dos anos 20 dará ao real uma nova definição. André Masson, mas também Arp, Max Ernst ou Giacometti confrontam a representação de Eva com novas exigências. Exploração vias como as do sonho, do acaso, o inconsciente irracional, o mistério ou o desejo. Nesse aspeto, o elemento feminino não deixará de obcecar as mentes e a representação do corpo vai ganhar laivos progressivos de liberdade.
Com a sua identidade própria representarão a permanência de um corpo habitado pelos males do mundo enquanto procura um certo Eden, sinónimo da Idade do Ouro.
Quer Arp, quer Masson, inspiram-se nas formas elementares da natureza, criando uma série de «Torsos».
Por volta de 1945 Giacometti recorre a nus femininos para ilustrar as suas preocupações íntimas: através de figuras monumentais ou minúsculas representa Eva como a encarnação da perenidade da existência do corpo, que ele gostaria conservar por qualquer preço.
De todos estes artistas, de Gauguin a Bonnard, passando por Rodin, Picasso ou Matisse, existe uma certeza: o corpo subsiste no fulcro do seu pensamento. O pintor ou o escultor sonham incessantemente com um corpo, que contenha a sua condição primitiva. Mesmo com algumas tentativas de desconstrução, o corpo resiste porque Eva assegura a sua filiação. A su8a presença real ou mítica, tal qual a sua renovação de imagem, recompõem o presente.


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