domingo, 15 de setembro de 2013

DOCUMENTÁRIO: «Le grand nord sur les rails» de Wolfgang Martin

Situada na Sibéria ocidental, a península de Yamal é uma região hostil onde as temperaturas podem cair até aos 60 graus negativos.
Desde 2011 que os comboios atravessam as paisagens desoladas da tundra, que ligam Obskaya até à estação ferroviária situada mais a norte no planeta.
A linha pertence ao grupo russo Gazprom, que deve garantir a sua manutenção, quaisquer que sejam as condições meteorológicas, porque é contínuo o fluxo de materiais e de trabalhadores para os campos de gás de Bovanenko. É daí que se assegura o aprovisionamento da Alemanha, da França ou da Áustria.
Alexander Khoroshaylo, o engenheiro responsável pela operacionalidade desta infraestrutura essencial à economia russa, decide quando enviar os limpa-neves para desimpedir a linha depois das violentas tempestades tão frequentes na região. Ou quais os troços a serem substituídos ou reparados em função da sua criteriosa identificação do seu estado. Há trinta e dois anos, que trabalha na região e já não conseguiria viver fora dali. Mas as consequências do aquecimento global são ali bem percetíveis pondo em risco a sobrevivência das populações nómadas, os nenets, que percorrem a região com os seus rebanhos de veados.
No total contam-se ali cerca de duzentas e cinquenta mil cabeças de gado, que é assim a maior concentração existente na Europa num território equivalente à superfície da Suíça.
Alexander tornou-se amigo de algumas dessas famílias, com quem partilha muitas vezes o chá nas suas tendas e a quem providencia madeira das traves substituídas na linha, já que os antigos apoios facultados pelo Estado Soviético evaporaram-se e essas populações ficaram entregues a si mesmas.
Ademais a prospeção do gás na região diminuiu drasticamente as quantidades de peixe com que essas populações nómadas contavam tradicionalmente para garantirem a suficiente fonte de proteínas, de que necessitam.
O futuro adivinha-se-lhes bem difícil, porque a prioridade na exploração dos recursos energéticos não se compadecerá com a sobrevivência dos habitantes tradicionais da península. E o crescimento da exploração, que se tornará no maior campo de prospeção de gás do mundo só acelerará esse processo.
A viagem de comboio dura vinte e quatro horas e transporta trabalhadores que cumprem ciclos de um mês de trabalho com doze horas diárias e um mês de férias junto das famílias, vindo de toda a Rússia em busca de melhores salários e de desafios pessoais acima do expectável. Mensalmente são quatro mil os funcionários da Gasprom a cirandarem num ou noutro sentido.
O documentário de Wolfgang Martin mostra como, até nas condições mais extremas, o homem acaba por conseguir criar condições para sobreviver, tão só encontre estímulos bastantes para as suportar. Mas também está em causa a destruição de culturas tradicionais, que não conseguem evitar os efeitos nefastos de um progresso para que nunca se preparam...


Sem comentários:

Enviar um comentário