Há alguns dias atrás uma reportagem inserida na programação da rubrica “Toda a Verdade” da SIC Notícias mostrava os náufragos do sonho americano. Casos concretos de pessoas, que chegaram a ter empregos, casas, vidas com qualidade suficiente para possuírem barcos de recreio, férias em estâncias da neve e frequência de prestigiados clubes de golfe, e agora condenados, a exemplo de tantos milhares de compatriotas, a viverem em quartos de motéis baratos ou dentro dos velhos carros.
Se o fenómeno já existia antes da crise de 2008 muito por causa da degradação progressiva do salário mínimo e da eliminação das organizações sindicais, ele acelerou-se e conduziu à destruição de boa parte do que se considerava ser a classe média.
Hoje todos os estados da União apresentam quadros de miséria extrema, que não enjeitam comparação com os tradicionais cenários de pobreza do Terceiro Mundo.
E, no entanto, interrogamo-nos: o que leva essa multidão de desesperados a não se revoltarem? Aduzamos quatro razões:
· Falta-lhes a organização que transforme a sua frustração individual em indignação coletiva num país onde o comunismo é sinónimo de terrorismo e o socialismo algo de muito parecido.
· Sobram igrejas evangélicas a divulgarem mensagens de conformismo e de descrença nas potencialidades dos seus crentes, como se todos os seus sofrimentos resultassem de um qualquer desígnio divino.
· Acrescem as rádios e as estações televisivas a emularem o discurso troglodita da Fox News.
· Instiga-se a ideia de não se possuírem méritos para vencer num espaço aonde só os muito determinados conseguem almejar o tal paraíso prometido para lá do arco-íris.
Que passos coelho imagine algo de semelhante no nosso cantinho à beira-mar plantado só justifica que seja travado o mais depressa possível. Porque, como disse Manuel Alegre, ele é um homem perigoso!
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