Se olharmos para os medinascarreiras ou os joségomesferreiras, que peroram exageradamente nas nossas televisões uma das maiores fraudes de que eles se fazem arautos é olhar para a realidade económica do país e vê-la estática em vez da sua contínua mutação.
Não o fazem decerto por ignorância, que lhes desculparia os disparates, mas por essa mistificação da realidade servir-lhes de caução para a visão ideológica de que são obcecados altifalantes ao repetirem até à náusea a estratégia ensaiada pelos neoliberais do FMI em Washington, pelos do BCE em Frankfurt ou pelos da Comissão Europeia em Bruxelas.
Surge assim a conceção de que a economia portuguesa só pode pagar um Estado Social expurgado de mais de 4 mil milhões dos seus custos atuais, não havendo outra alternativa, que não seja a austeridade pura e dura.
Ora se recorrermos aos números do Pordata, concluímos que o PIB nacional em 2010 era de 172 859 500 euros, quando o governo era liderado por José Sócrates. Dois anos depois, e embora ainda em valores provisórios, os números são devastadores para passos coelho: 165 409 200 euros. Ou seja, apenas em meio mandato, a equipa de passos coelho reduziu em mais de 7 500 mil milhões de euros a riqueza produzida pela economia nacional, equivalentes a 4,5%.
A continuar essa quebra do PIB, precisamente pela aplicação das políticas de austeridade, aos 4 mil milhões agora previstos, exigir-se-ão outros tantos, reduzindo esse mesmo Estado Social a uma mera caricatura do que constitucionalmente os governos deveriam assegurar. Sempre sob o argumento falacioso de que a riqueza nacional não conseguirá ter meios para mais! E chegar-se-á ao sonho dos neoliberais à moda de Friedman: uma sociedade sem Estado nem impostos, em que as empresas comandadas por oligarcas, manteriam na escravidão os seus trabalhadores, ferreamente controlados pelos exércitos privados de que dispõem.
É por isso que existe hoje uma linha de demarcação muito clara entre a esquerda e a direita: enquanto esta pretende mais austeridade, aquela exige crescimento económico e mais Estado com a missão de redistribuir os rendimentos obscenamente desiguais..
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