Neste verão um dos museus mais interessantes do sul da França - o Bonnard situado na Côte d’Azur» apresenta uma exposição entre 6 de julho e 3 de novembro, dedicada ao lado simbólico, até mesmo icónico do nu na História da Arte entre 1880 e 1950, através de obras que vão de Gauguin a Bonnard.
Desde que surgiu a pintura de cavalete, que a história de Eva inspira os pintores desde Masaccio a Rubens passando por Miguel Ângelo, Bosch ou Brueghel.
No século XX a imagem da suposta primeira mulher surge como o fio condutor da releitura formal e simbólica do nu feminino.
Primeira mulher ou mulher única no universo do artista, Eva é a representação intrínseca do nu.
Gauguin com o seu conceito da Eva exótica ou Bonnard com Marta/ Eva imitaram muitos outros artistas na representação de uma nudez culpada ou ideal, intrinsecamente primitiva.
A exposição apresenta cerca de setenta obras simbolistas, dos nabis, fauves, cubistas e surrealistas assinadas por, para além de Gauguin e de Bonnard, Rodin, Matisse, Redon, Dufy, Picasso, Rousseau, Arp, Giacometti e Chagall entre outros.
Esta seleção de qualidade superior foi possível graças ao apoio do Museu Orsay e de muitas outras coleções públicas e privadas.
Quem é Eva senão essa mulher de sonho, que fará alterar a representação do corpo desde meados do século XIX? Eva corresponde à quintessência do corpo pronto para ser repensado ou sonhado pelos artistas.
No final desse século são muitos os artistas simbolistas e nabis a refugiarem-se no sonho, nos mitos originais, nos episódios bíblicos e mitológicos e a dar a imagem de uma mulher verdadeiramente pura.
Paul Gauguin, o primeiro de uma longa linhagem de artistas, inventa e sonha também com a sua Eva. Colocada no centro das suas pesquisas pictóricas, a figura feminina apresenta um vocabulário formal e mitológico muito pessoal e constrói um Paraíso por ele localizado nos Trópicos.
O quadro «Te nave Nave Fenua» encarna o seu Éden, Gauguin persegue o seu tema em muitas outras obras de que se salienta «Et l’or de leur corps».
Nas suas obras o artista confronta os modelos taitianos com as tradições judaico-cristãs. Símbolos como a maçã ou a serpente são substituídas por uma flor ou um lagarto.
Este novo conceito e essa nova Eva influencia profundamente a geração nabi - Pierre Bonnard, Maurice Denis ou Odilon Redon.
Ainda que liberto da estética nabi, Bonnard mantém um certo simbolismo, que se encontra em «L’Homme et la femme», quadro que exprime os seus sonhos e dúvidas sobre o homem.
A composição é organizada wm torno da vertical de um biombo. De um lado está o corpo de Marta/ Eva iluminada, enquanto do outro está o de Bonnard/ Adão na penumbra.
O casal acaba de concretizar o pecado original e a aparente desenvoltura de Marta, associada ao face a face de Bonnard consigo mesmo, inverte essa visão milenar entre o bem e o mal.
Em Rodin, Eva é a encarnação absoluta da Mulher situando-se no centro das interrogações do escultor.
Como refere Jean-Louis Schefer, encontra-se em Rodin uma modelagem simultaneamente suave e violenta, ou seja, todo o sobressalto das paixões.
Abordado em diversas obras, entre as quais o bronze «Ève», confronta o espectador com a primeira das pecadoras da humanidade, mostrada como uma mulher consciente da sua culpabilidade.
Esta filosofia não deixará de se ampliar e desenvolver, nomeadamente pela reinvenção de uma certa visão arcadiana da natureza como sucederá nos futuros Fauves.
Outros nabis como Sérusier, com «Ève bretonne» ou «Mélancolie», Ranson com o seu «Ève au paradis terrestre» ou ainda Denis com «Nu au crepuscule» ilustram esse simbolismo alegórico num universo familiar.
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