No excelente texto de Paulo Pena publicado na mais recente edição da revista «Visão», intitulado «Bancocracia», é dado justo ênfase a Nuno Teles, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que explica com uma grande clareza a razão de ser da crise financeira portuguesa.
Na sequência da especulação bancária internacional suscitada por mecanismos virtuais (CDS’s, swaps, CDO’s,) que viria a redundar na falência da Lehman Brothers o setor financeiro nacional teve a oportunidade de se endividar no exterior, de forma quase ilimitada, a preços muito baixos. Contudo, aliado à tradicional falta de competitividade da nossa indústria, a banca optou por colocar todo este capital disponível em setores onde o seu lucro estava garantido, nomeadamente a construção e imobiliário. A banca financiava o construtor e, em seguida, financiava o comprador, ficando com o imóvel como garantia.
Quem não se lembra das gigantescas campanhas publicitárias com que os bancos aliciavam a população a comprar casa, tivesse ou não condições sustentáveis para dar tal passo? Ou, noutra alternativa igualmente perniciosa, quantos anúncios de facilidade de crédito ao consumo (para viagens, eletrodomésticos ou automóveis) não estiveram na origem de inúmeras tragédias pessoais, hoje traduzidas em situações de desespero transferidas para as colunas de fait divers dos correiosdamanhã?
Chegou-se assim ao tal endividamento, que os bancos foram os grandes responsáveis por gerarem. Por isso importa refutar vigorosamente a ideia da culpa dos portugueses despesistas, sempre que ela é enunciada para impor as medidas de austeridade.
Esta crise tem culpados com rosto: os banqueiros! Sobretudo os do BPN e os do BPP, mas também os demais não podem ser ilibados das suas efetivas culpas! E nós é que lhes estamos a pagar as contas fraudulentas!
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