Dos filmes atualmente em exibição nos ecrãs lisboetas «O Gosto do Saké» é decerto um dos mais interessantes.
Datado de 1962, foi o último realizado por Yasujiro Ozu antes de falecer no mesmo ano, e tem por tema o envelhecimento dos outrora poderosos chefes de família e a progressiva consciência da necessidade de não obstarem, por egoísmo, à felicidade das filhas casadoiras.
Estamos num Japão em plena mutação com as memórias da guerra ainda bem presentes, mas com as mulheres a conquistarem estatuto social à conta do seu papel cada vez mais ativo no mercado do trabalho. Em vez dos casamentos negociados já se coloca a possibilidade deles decorrerem da atração amorosa entre os noivos.
Mas o que mais entusiasma no cinema de Ozu é a forma de representação em que os atores dialogam entre si, mas virados para a câmara fazendo do espectador o seu interlocutor aparente. A empatia com os personagens surge assim eficientemente facilitada.
Mas não só: a própria forma de desenvolvimento do argumento é depurada com uma utilização inteligente das elipses, que sugerem bem mais do que explicitam.
Trata-se, pois, de um belo testamento cinematográfico: após tantos filmes, através dos quais foi mostrando as transformações de valores por que passava o seu país, Ozu mostra um Japão em que os conceitos tradicionais são varridos pela incontornável evolução económica e social...
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