Nos últimos anos Génova perdeu 1/4 da sua população de 800 mil habitantes. A maioria dos que partiram foram os operários metalúrgicos, condenados ao desemprego pelo encerramento das empresas onde trabalhavam. Mas muitos jovens também optaram por partir ao verem minguadas as possibilidades de encontrarem perspetivas de sucesso naquela que foi outrora tida como uma cidade stupenda.
A arquiteta e fotógrafa Anna Positano tenta resistir à tentação de partir, entretendo-se a captar em imagens essa hemorragia. Sempre confrontada com o conservadorismo de uma cidade, que remete a arte contemporânea para a quase clandestinidade, ela vai formulando e concretizando projetos fotográficos, que já começam a ser reconhecidos internacionalmente-
Um dos seus projetos mais interessantes intitula-se «Casa: uma arqueologia pessoal» (2011) em que procura associar, lugares, memórias e objetos. Daí ter procurado espaços de transição, que tivessem deixado de ser o que eram e estavam na iminência de se converterem em algo completamente diferente. Como aconteceu com a residência de um inquilino, quase centenário, que ali habitara e permite a Anna Positano a concretização de um conhecido conceito de Sartre para quem as coisas são a extensão do nosso corpo, possibilitando a sua recordação. A visita a essa casa constituíu, assim, uma espécie de prospeção à vida privada dessa pessoa.
Num trabalho mais recente, «Right Here» (2013), Anna Positano explora lugares através das memórias dos seus cidadãos. Concretizado em Clavesana (Itália) e em Adis-Abeba (Etiópia) durante duas residências da artista, ela pediu a algumas pessoas para esboçarem os seus percursos e mostrarem-lhos de acordo com algumas das suas experiências, relacionando lugares e memórias. Trata-se de um projeto apostado em criar uma perceção diferente dos lugares através da interligação entre as biografias e a geografia, concentrando-se em espaços quotidianos e negligenciados, quase “invisíveis” enquanto se percorrem...
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