sábado, 24 de agosto de 2013

LIVRO: «Acqua Alta» de Donna Leon

«Acqua Alta» foi o terceiro romance de Donna Leon, que me chegou ás mãos e deu para concluir a sua justa inserção naquele volumoso classificador de autores de romances policiais em que a inteligência, o talento e a imaginação estão longe de me surpreender. Nesse sentido não existe qualquer aproximação valorativa aos autores da minha predileção no seu género como são os casos de Patricia Highsmith, Henning Mankell, Dashiell Hammet ou Raymond Chandler.
Mas a criadora do comissário Guido Brunetti tem duas vantagens do lado dela e que justificam a leitura, mesmo que pouco entusiasmada: a localização em Veneza das suas histórias e a presença do mundo da ópera de que ela é grande apreciadora. 
Ora, depois de lá ter estado por duas vezes, Veneza continua a ser uma das mais mágicas cidades guardadas na memória. O ambiente dos cafés da Praça de São Marcos ou ao lado do Campanile, quando a noite cai e os músicos enchem de sons de violinos e sopros o espaço circundante ao Palácio dos Doges é dos que nunca mais se esquecem. Como igualmente inesquecível qualifico essa deambulação por pontes e ruas labirtinticas e, ao virar de uma esquina, me surge o cemitério San Michelle mesmo à frente dos olhos.
Por outro lado a grande ópera italiana de Verdi, Donizetti ou Puccini já me garantiram grandes momentos de fruição.
Assim por ambas as afinidades eletivas disponho-me a ser complacente com as histórias saídas da imaginação de Donna Léon mesmo quando a estrutura da história parece um bocado básica, com a culpa a ser facilmente encontrada na pessoa de um mafioso, que não olha a meios para enriquecer a sua coleção de preciosidades artísticas. De facto é sem grandes dotes de dedução, que Brunetti identifica o local para onde a arqueóloga agredida e, depois raptada por ter identificado o roubo de quatro peças expostas sob a sua responsabilidade, fora levada, chegando mesmo a tempo de a resgatar.
Igualmente interessante, porque pouco comum, a explicita relação lésbica entre essa Britt com a soprano Flavia Petrelli, que permite denunciar o tipo de estigma por que ainda passam as pessoas do mesmo sexo, quando decidem assumir às claras a sua relação amorosa.
Em suma, um bom romance para ler na praia, sob o chapéu de sol, mas sem ter pretensões para ir muito mais além.



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