Só agora - já passado mais de um ano sobre a sua estreia e de uma tournée por outros palcos do país - é que fomos ver o Diogo Infante ao São Jorge a interpretar oito quadros imaginados pelo norte-americano Eric Bogosian.
Confesso que a expectativa não era muita, já que tendo alguma consideração pelo seu valor artístico, nunca me entusiasmei seriamente pelo trabalho de Diogo Infante.
Nesse sentido tenho presente o seu desempenho de Hamlet, alguns anos atrás no Maria Matos, que me levou a pensar ter sido demasiado cedo para se abalançar ao nec plus ultra do teatro shakespeariano.
Desta feita a satisfação foi maior, embora sem chegar ao vibrante entusiasmo. Reconheço, porém, que a interpretação do ator é irrepreensível mudando com competência do guru meio toinha com que se apresenta em palco para o taxista muito reacionário; do médico que receita um fármaco cheio de contraindicações, para o rocker toxicodependente meio parvo; do invejoso que procura uma cunha para igualar o sucesso do ator que vem vampirizar ao diabo disposto a desvalorizar o trabalho de um deus, que fez o que fez ao seu filho Jesus, pelo que aonde poderia arranjar vontade para cuidar de nós, seus desconhecidos?
É fácil rir de muitas das situações, mas também existem momentos em que as caricaturas se prolongam para lá do suportável.
O que está sempre presente é a crítica a tudo quanto nos inquieta e nos condiciona o elementar direito à felicidade - a televisão, a religião, a medicina, o emprego que tanto detestamos. Porque não nos privamos de dar importância a coisas demasiado pequenas para verdadeiramente importarem
A peça acaba por constituir um estímulo para que nos abstraiamos mais dos outros e pensemos mais em nós. O que é uma tese algo equívoca: porque as ditaduras pelam-se por reduzir os oprimidos às suas conformadas, ou indignadas, individualidades. E a importância do grupo e dos seus valores (a generosidade, a lealdade, a solidariedade) são aqui completamente esquecidos.
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