sábado, 31 de agosto de 2013

DOCUMENTÁRIO: «O Exílio dos Judeus: entre mito e história» de Ilan Jiv e Pascal Cuissot (2013)

Os judeus suscitam-me reações ambivalentes: por um lado de compaixão por tudo quanto sofreram ao longo dos séculos numa Europa antissemita, capaz de organizar progroms para assassinar e espoliar gerações de seguidores da Torah. Se o Holocausto figura como o exemplo mais terrível dessa tendência para perseguir e assassinar judeus, não podemos esquecer como a nossa História está manchada por muitos crimes similares, muitos dos quais com o alibi de julgamentos inquisitoriais. Mas, por outro lado, não podemos ignorar o comportamento igualmente criminoso dos governos israelitas, capazes de transferirem para os palestinianos o mesmo ódio para com o Outro, o que crê e pensa de forma diferente.
Este documentário ganha particular interesse por demonstrar como muita da mitologia em que assenta a argumentação dos governos de Telavive para suportarem a sua política expansionista através de colonatos e justificarem a ideia de ter existido algo que constitui uma enorme falsidade: um Grande Israel!
Desde a destruição do templo pelos Romanos no século II d.C. que, nas suas orações, os judeus de todo o mundo costumam enunciar um voto: no próximo ano em Jerusalém. Desde há dois mil anos que essa fórmula cabalística evoca a perda da Terra Prometida e a condenação ao exílio de todo o seu povo.
Os primeiros cristãos consideraram esse exílio uma punição divina contra aqueles que se tinham recusado a ver em Jesus Cristo o anunciado Messias e deram origem à tradição antissemita europeia nos séculos seguintes. E os próprios judeus abraçaram esse mito do exílio coletivo como uma sanção para os seus pecados.
O filme de Ilan Juv e de Pascal Cuissot questiona essa narrativa, que se instalou nas teologias judaicas e cristãs da Europa e do Médio Oriente e onde se mistura a historiografia e a lenda, o mito e a realidade.
Nesta abordagem, que se desenrola na Galileia, em Massada, em Jerusalém e em Roma, até se conclui que, em vez de constituir um período de desintegração do judaísmo, os séculos subsequentes à destruição do Templo até foram marcados pelo seu ressurgimento.
Os historiadores e os arqueólogos concordam em como é falsa a versão catastrofista do exílio, já que a diáspora judaica era frequente muito antes do século II d.C. em toda a bacia mediterrânica.
Os arqueólogos, que andam a estudar as ruínas de Sephoris na Galileia desde 1985, descobriram que a cidade rechaçou a possibilidade de apoiar a rebelião de Jerusalém e continuou a prosperar dentro do contexto do Império Romano. Viria a transformar-se numa aldeia árabe, Safuri, após a conquista da Palestina no século VII, embora os seus habitantes viessem a ser expulsos pelos ocupantes israelitas em 1948, apesar de reivindicarem ser os descendentes das populações hebraicas da Antiguidade.
O documentário de hora e meia tem entrevistas com especialistas, imagens de arquivo e recriação de episódios históricos com atores e atrizes, para revelar a riquíssima história dos povos da região.



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