A costa leste dos EUA, e particularmente, as praias de Long Island, ainda guardam as memórias da chegada dos primeiros colonos. A ilha era outrora o ponto de partida dos barcos, que iam pescar baleias. Hoje vivem aí os mais endinheirados dos habitantes de Manhattan, que fica apenas a duas horas de viagem por estrada e consideram imprescindível ter casa por estas paragens como forma de demonstração do seu estatuto.
De certa forma imitam Gatsby, o personagem de Scott Fitzgerald na mesma intenção de exibirem a ascensão social, tão importante na América quanto a conquista do Oeste ou a perseguição à baleia branca.
Essa vinda do jet set nova-iorquino intensificou-se nos anos 80 do século XX, quando os miúdos de Wall Street começaram a ganhar fortunas apenas por fazerem telefonemas a uns quantos interlocutores privilegiados e invadiram Hampton, esta pequena aldeia de pescadores, aonde se tinham instalado sobretudo pintores, poetas e romancistas. Como Peter Matthiessen, que constitui um exemplo paradigmático de aventureiro e poeta, de explorador e de romancista.
Nascido em 1927 ele sabe identificar, quase à porta de sua casa, o primeiro terreno cultivado da história americana. O que significa ter-se instalado numa comunidade, que sempre se dedicou à agricultura, já que a terra revelou-se extremamente fértil. Comparativamente com outras bem mais agrestes, como as do Connecticut, os colonos quase se julgaram instalados no paraíso.
Matthiessen fundou a «The Paris Review», que foi uma das mais importantes revistas literárias dos EUA, e foi premiado por algumas das suas obras mais importantes como «The Snow Leopard» (em que testemunha a sua notável ascensão ao topo do Everest), «Killing Mister Watson» ou «Shadow Counting».
Mas, na sua bibliografia também constam outros livros não menos apreciáveis como «Lost Man’s River», «In The Spirit of Crazy Horse»
Crítico mordaz da política da Casa Branca, ele acredita que o papel do escritor é o de falar por aqueles que não conseguem fazer-se ouvir. Nomeadamente os índios, que terão conseguido alguma atenção nos anos 60 durante e revolução hippie, mas logo voltaram ao esquecimento. Daí que ele se sinta eticamente estimulado para lhes dar voz às aspirações e inquietações.
Outro escritor residente há meio século em Long Island é James Salter, que foi em tempos piloto de aviões militares em guerra já tão distante como a da Coreia. Ao fim de doze anos de serviço decidiu reciclar-se em romancista. Desde então escreve livros sublimes sobre o indizível e o que é frágil.
Vizinhos há mais de trinta e cinco anos Matthiessen e Salter têm partilhado opiniões sobre a evolução do seu país. Nalguns aspetos consideram notáveis essas mudanças como é o caso das que disseram respeito aos afroamericanos. Mas para o primeiro as coisas deveriam ter mudado muito mais aceleradamente. Tanto mais que as pessoas deixaram de sentir a qualidade de vida a melhorar como ocorrera logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Embora não enjeite culpas próprias no crepúsculo do sonho americano, já que terão sido os eleitores a optarem pelos recentes e atuais políticos, Matthiessen não desiste de um mundo bem mais agradável de ser vivido.
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