Privada de verbas para sequer garantir a legendagem de muitos dos filmes, que continua a exibir, a equipa de Maria João Seixas à frente da Cinemateca Portuguesa vai prosseguindo o esforço de exibir o rico manancial de obras primas criadas pelas cinematografias de todas as latitudes.
Na semana transata, antes de fechar para férias em agosto, as salas da Barata Salgueiro propiciaram-nos um dos melhores filmes, que vimos no ano em curso: «Infidelidade» realizado por Liv Ullmann e com argumento de Ingmar Bergman é um libelo acusatório ao egoísmo masculino e uma demonstração dos efeitos devastadores sofridos pelas mulheres, quando decidem render-se à ilusão do amor superlativo.
Marianne - um desempenho notável de Lena Endre! - troca o marido, o diretor de orquestra Markus, pelo encenador e realizador de cinema David. Em princípio a infidelidade até é vivida quase como um jogo sem consequências, restringido a umas pequenas férias em Paris. Até porque esse amante mostra-se imaturo, volúvel e fracassado nos seus projetos artísticos. Ao invés, Markus parece evoluir para um impressionante sucesso internacional.
Mas perdendo o controlo da sua própria vontade, Marianne deixa-se surpreender pelo marido em flagrante delito e o divórcio será uma batalha a doer, violenta e sem escrúpulos.
Por outro lado, David cumpre o papel de um Don Juan que, consumada a conquista perante o rival, dela depressa se desinteressa a coberto de uma cena de ciúmes não menos dolorosa para Marianne do que as vividas com o ex-marido.
Muitos anos depois um velho realizador - presume-se que esse mesmo David - convoca o fantasma de Marianne e, com ela revive todo esse passado de que sente tardios remorsos. Até porque acaba por ter na solidão o resultado prático dessa forma reiterada de ter passado a vida a semear os ventos dos afetos traídos agora transformados em plúmbea tempestade.
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