quinta-feira, 29 de agosto de 2013

POLÍTICA: as tentações para intervir em Damasco

Será que a Síria escapará a uma intervenção punitiva do Ocidente, que quererá assim justificar o injustificável apoio aos que combatem o regime de Assad?
Ontem e anteontem a pressa das chancelarias parecia imparável: cameron e hague tinham as certezas, que os observadores da ONU ainda não haviam garantido quanto à culpabilidade do regime. Em França fabius estava de mão dada com os seus cúmplices israelitas na necessidade de aproveitar o alibi do ataque químico para dar a Assad o mesmo destino que a Saddam ou a Kadafi. E obama até se enganava na entrevista em que afiançava haverem armas nucleares na posse do regime sírio, até dar pelo lapso e corrigir para as de natureza química, adotando então uma expressão angelical para considerar impossível que os oposicionistas também as detivessem.
O que ninguém explica é porque, estando a viver uma fase vitoriosa na guerra em curso, o regime optaria pela estratégia suicida de dar argumentos aos rebeldes para estes recorrerem aos seus apoios internacionais. Dos romances da Agatha Christie sabemos que o crime tem sempre um autor previsível: quem mais lucra com ele!
Daí que se me afigure crível uma tese difícil de contestar: divididos entre os fundamentalistas apostados em transformar Damasco na capital de mais um Estado Islâmico e a grande burguesia, que sonha com um tipo de desenvolvimento económico parecido com o do seu vizinho turco, os rebeldes sírios viam o tempo correr em seu desfavor. E os seus apoiantes ocidentais a desinteressarem-se progressivamente da sua sorte ou não vão tendo semanalmente no Iraque ou no Afeganistão, exemplos lapidares quando intervém de acordo com os seus preconceitos geoestratégicos. Nada mais lógico do que utilizarem armas fornecidas pelos traficantes que com eles têm enriquecido, ou espoliadas dos arsenais do regime, e encenarem o crime que poderia justificar uma reviravolta na sua difícil realidade.


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