domingo, 11 de agosto de 2013

DOCUMENTÁRIO: «O Sal dos Incas» de Andrea Oster (2009)

Há povos cujo sustento implica um esforço inimaginável para quem consome o produto do seu labor.
Um exemplo disso mesmo ocorre com os salineiros de Maras, que trabalham a mais de três mil metros no Altiplano andino, para garantir um dos condimentos mais apreciados nas mesas europeias e norte-americanas para onde é exportada grande parte da sua produção.
A paisagem em redor dessas salinas é de uma beleza indescritível, mas as famílias que se dedicam a colher o parco sustento no sal aí produzido quase nem reparam no que está para além da parcela de encosta íngreme escalada diariamente nos cinco meses anuais da sua exploração e em equilíbrio sempre periclitante sobre o precipício aonde arriscam tombar.
Confirmando o saber profundo dos incas para os trabalhos hidrológicos, essas salinas formam um labirinto de bacias muito complexo, mas por onde circulam as águas salgadas das nascentes termais saídas das montanhas em cujas encostas foram construídas.
Deixadas a evaporar em tais depósitos de retenção essas águas dão origem a uma crosta esbranquiçada designada por sal de Maras ainda recolhido de acordo com métodos ancestrais.
No início de maio, quando acaba a estação das chuvas, é altura de recomeçar um ciclo respeitado há gerações imemoriais.
No documentário de Andrea Oster acompanha-se a família de Emilia Atapaucar no esforço de começar a limpar as oito bacias de que é proprietária. E é grande a urgência em começar a tirar proventos daquela riqueza natural, porque a filha Mariella está para ter o seu primeiro filho aos 23 anos e os custos com o hospital não são comparticipados pelo Estado.
Já na época da civilização inca as salinas de Maras forneciam grandes quantidades de sal ao império sedeado em Cuzco. Depois, com os conquistadores espanhóis chegados no século XVI, a pilhagem do ouro inca também foi complementada com idêntico destino dado ao sal desta região.

Hoje Maras é uma pequena aldeia montanhosa onde os habitantes exploram as salinas autonomamente. Mas fazendo-se roubar pela cooperativa local, que lhes paga apenas 1/6 do rendimento obtido com o sal ali rececionado, já que os restantes 5/6 ficam para a própria organização a título de “despesas de gestão e administrativas”. Como acontece com a generalidade das mercadorias oriundas do Terceiro Mundo a parte de leão do preço final fica nas mãos dos intermediários em vez de recompensar devidamente os produtores.
Durante a rodagem do documentário o maior receio da família Atapaucar - aguaceiros fora de época capazes de destruírem o sal produzido durante um mês - não se verifica. Mas não estão tão certos que o pai do bebé, dado à luz por Mariella, assuma as responsabilidades para com a companheira e o recém-nascido. O olhar desconfiado que lhe endereçam, quando o conhecem à beira da cama do hospital não é de grande esperança.


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