sábado, 24 de agosto de 2013

POLÍTICA: e se a próxima chicotada psicológica ocorrer na noite das autárquicas?

Na coluna semanal no «Expresso» Pedro Adão e Silva vem refletindo sobre a tendência dos partidos tradicionais do sul da Europa em perderem influência devido à sua incapacidade para corresponderem às ansiedades dos seus desiludidos eleitores.
Os casos da Grécia - com a fuga de eleitores para o Syriza e para um partido neonazi - ou da Itália - com o fenómeno do palhaço Grillo - parecem atestá-lo.
Ora, Pedro Adão e Silva questiona-se quanto ao que se passará em Portugal num altura em que as autárquicas estão aí à porta.  E perspetiva a possibilidade de uma grande recuperação do PCP em câmaras há muito perdidas e um meio empate entre o PSD - não tão causticado nas urnas quanto as suas políticas recentes justificariam - e um PS aonde Seguro vai constituindo a demonstração lapidar do que pode ser uma vitória de Pirro: ganhar-se um partido com a potenciação da lógica clientelar dos aparelhos internos e perder-se um país.
Pessoalmente, e desde que José Sócrates saiu da sua liderança, considero-me sócio do Partido Socialista (e por isso tenho as quotas pagas até ao fim do ano), mas não propriamente militante. Porque, para militar necessitaria de acreditar no sucesso desta estratégia insonsa escolhida por Seguro para aparentar que é Oposição responsável. E a verdade é que não acredito!
O que significa compreender plenamente o que Pedro Adão e Silva afirma no seu texto: por enquanto socialista, não direi que doutra água não beberei se sentir os meus valores de igualdade, justiça e liberdade, melhor defendidos por outro partido. Por exemplo, se estivesse na Grécia, decerto já teria saído desse zombie em que o Pasok se converteu para apoiar sem reservas as propostas de Alexis Tsipras.
Mas não concordo que a solução para uma maior identificação dos eleitores com os que defendam os seus interesses de classe passe por fora dos partidos. De todas as candidaturas “independentes”, que tenho visto surgir para as próximas autárquicas só a de Guilherme Pinto em Matosinhos e a do Movimento Cidadãos por Coimbra mereceriam o meu apoio se acaso votasse nessas cidades.
Continuo, pois, a defender a importância dos partidos enquanto instrumentos imprescindíveis da democracia. E a importância de neles pugnar pelas mudanças que os adequem à eficácia dos seus propósitos.
Assim, se hoje sou sócio e não militante do Partido Socialista, não significa que altere essa postura quando a direção atual for confrontada com a sua mediocridade e lhe suceder quem possui a cultura, a inteligência e a Visão de Futuro, que esta não tem. Aguardo, pois, por António Costa, por Pedro Nuno Santos, por Sérgio Sousa Pinto, por João Galamba, por Fernando Medina, por Isabel Moreira, por Pedro Delgado, por Pedro Marques, por Pedro Silva pereira e por muitos outros a que desejaria ver associado José Sócrates, o político mais subestimado e criminosamente atacado no Portugal democrático por quem os socialistas têm de identificar como os seus verdadeiros inimigos! E quiçá encontrando pontes de diálogo frutuosas com um Bloco de Esquerda e um Partido Comunista capazes de se mostrarem menos sectários do que têm sido até aqui!
Com tais dirigentes a liderar o meu partido, decerto que ele deixará de parecer titubeante na Oposição e liderará os movimentos sociais dispostos a pôr fim a esta austeridade! É que, seja aqui, seja na França do igualmente timorato Hollande, ou em Espanha com o quase inaudível  Rubalcaba, as democracias europeias não se compadecem com socialistas esquecidos em como tudo continua a resumir-se à velha luta de classes, connosco de um lado da barricada e os outros - o capital, o grande patronato - a dispararem do outro artilharia pesada, que só do nosso tem provocado vítimas.
Por tudo isso ainda acredito que existirá futuro com os atuais partidos de esquerda, incluindo aquele a que me mantenho ligado. Mas a agudização na desigual distribuição de direitos e rendimentos exige que façamos mudanças urgentes nos nossos comandos operacionais.
Para começar seria bom que, na noite das autárquicas, quando o PSD minimizar a sua derrota encostando-se à tíbia progressão do PS, o exemplo de Guterres fosse seguido e no Rato surgisse a consciência de não se poder perdurar por mais tempo neste pântano!


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