terça-feira, 20 de agosto de 2013

ÓPERA: «La Clemenza di Tito» de Mozart

Em 2012 a Vienna State Opera apresentou mais uma produção da última ópera assinada por Mozart, com Michael Schade no seu já bem rodado papel do imperador e Elina Garanca a assumir o de Sesto.
Nove anos antes já o tenor interpretara o mesmo papel numa reconhecida versão de Martin Kusej para o Festival de Salzburgo, com Harnoncourt a dirigir a orquestra, mas Garanca, ainda quase desconhecida, ficara com um papel secundário, já que os papéis de Sesto e de Vitellia tinham sido atribuídos respetivamente a Vesselina Kasarova  e a Dorothea Röschmann.
Mas, apesar de mediar menos de uma década entre essas duas produções de referência, pode-se considerar que, tratando-se de uma ópera magnífica - porque amadurecida e com o compositor no auge das suas competências orquestrais! -  «La Clemenza di Tito» é representada com menos frequência do que merecia. Aliás, quando se fala das grandes obras de Mozart, esta é raramente referenciada.
Composta em 1791, ano da morte do compositor, resultava de uma encomenda para as cerimónias de entronização de Leopoldo como rei da Boémia. E Mozart não desperdiçou a oportunidade para celebrar as ideias iluministas, que o imbuíam, recorrendo para tal à figura do imperador Tito, a quem confere grandeza e magnificência próprias de um soberano esclarecido.
A ação passa-se, pois, na antiga Roma, quando, na sequência de uma erupção do Vesúvio, Sesto está alojado em casa da sua amante Vitellia, que o insta a conspirar com ela contra o imperador. Ora Sesto é amigo de longa data de Tito e sente escrúpulo em derrubá-lo, mesmo que isso ponha em causa a sua relação amorosa.
Elina Garanca, que interpreta esse papel masculino tem uma belíssima ária a duas vozes com o clarinete da orquestra, como se este expusesse os silenciosos argumentos de Vitellia. Sesto acaba por personificar o tipo de atitude em que aceita que ela lhe peça tudo o que queira menos o de matar o amigo.
Mas a conspiração vai por diante no final do 1º ato, mesmo que Sesto se sinta algo confuso com o curso dos acontecimentos. Nessa cena a composição orquestral anuncia já o romantismo.
O 2º ato inicia-se com o Capitólio em chamas e Tito a emergir vivo do monte de ruínas em que todos os julgavam sepultado. E anima-o o desejo de vingança contra quem cometeu a tentativa de golpe de estado. Mas a culpabilidade aparente de Sesto não o convence: como poderia o seu melhor amigo estar por trás de tão vil conspiração? Por isso mesmo manda-o chamar. Mas Sesto quer poupar Vitellia e assume-se como único responsável pelo sucedido.
Condenado como traidor, a sua morte é certa, muito embora ele peça ao imperador comedimento no anúncio da sentença. Em paralelo Servilia vai procurar Vitellia para lhe pedir que defenda a causa do irmão, mas, à primeira vista, não a consegue demover. Mas no íntimo, Vitellia percebe interessar-se muito mais pelo seu amor ao poder do que ao infeliz amante.
Está prestes a consumar-se a execução, quando Vitellia entra em cena e perante Tito assume a responsabilidade pela conspiração. Ora, impressionado pelo facto de haver quem esteja disposto a sacrificar a vida para pagar crimes alheios, Tito decide pela clemência que dá nome à obra.
É em tom jubilatório que ela se conclui...



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