quinta-feira, 15 de agosto de 2013

ASTRONOMIA: As Voyager nos confins do Sistema Solar

Explorar o desconhecido faz parte das características do ser humano, que desde cedo navegou em embarcações precárias para avançar pelos mares adentro de todo o planeta.
Foi com esse mesmo espírito que, há 36 anos, as sondas Voyager partiram à descoberta dos espaços siderais, constituindo os primeiros objetos de fabrico humano a chegarem para além do Sistema Solar.
1977 foi, de facto, um ano muito especial para os EUA com Jimmy Carter a assumir a liderança da nova Administração norte-americana naquilo que, erradamente, se julgava uma época de redenção em relação aos pecados imperialistas dos anos mais recentes (guerra da Indochina, apoio a golpes militares no Chile e noutros países latino-americanos).
Foi, pois, sob esses bons auspícios que se lançaram as duas sondas Voyager com as quais se pretendia dilatar o conhecimento do Sistema Solar, graças a uma estratégia até então não testada, mas concebida na década anterior: o aproveitamento de sucessivas acelerações das graças aos impulsos facultados pela gravidade de cada planeta, permitindo-se alcançar distâncias significativas sem qualquer consumo de combustível.
Igualmente desde a década de 60 que se conheciam os cálculos pelos quais se constatava o alinhamento muito favorável dos quatro planetas gigantes entre 1975 e 1987, que possibilitaria essas sucessivas acelerações à medida que as Voyager fossem passando pelas órbitas de Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno. Uma janela de oportunidade, que só se voltará a repetir daqui a cerca de cento e trinta anos.
Não eram poucos os desafios dos cientistas da NASA para executarem esse projeto, tanto mais que muita da tecnologia para ele imprescindível ainda estava por descobrir. Ademais o orçamento da instituição era demasiado curto para prover tanta ambição.
Foi então que Carl Sagan entrou em cena com uma excelente ideia que, para além do seu mérito, foi mobilizadora de investimentos até então inimagináveis para financiar as viagens: o envio de uma mensagem para as estrelas, sob a forma de um disco com uma seleção de sons, imagens e música, passíveis de virem a ser ouvidos e vistos por uma qualquer inteligência extraterrestre num futuro indefinido..
Em Agosto e Setembro de 1977 as duas naves partiram para o espaço chegando  às proximidades de Júpiter em abril de 1979. Os astrónomos maravilham-se então com as imagens nítidas das colossais tempestades do grande planeta e de alguns dos seus satélites (em Io, por exemplo, deteta-se a primeira erupção vulcânica extraterrestre).
Em 1981 as Voyager já estão na escala seguinte: Saturno.  Descobre-se então que os famosos anéis são muito mais numerosos do que se imaginariam: acaso houvessem prevalecido os planos iniciais de as sondas passarem entre os anéis e o planeta, não teriam sobrevivido ao impacto com tantos pequenos corpos em órbita,
Quatro anos depois do lançamento a missão das Voyager já constitui um enorme sucesso mesmo considerando que da atmosfera de Titã, o maior satélite de Saturno não cheguem dados bastantes para aferir a possibilidade de aí existir alguma forma de vida, mesmo que primitiva.
Etapa seguinte: Úrano. A atingir cinco anos depois. E onde se conseguem belas imagens fotográficas, mas que nada acrescentam ao que já se conhecia sobre esse planeta.
Os cientistas concentraram então as suas expectativas para Neptuno onde as sondas chegaram ao fim de doze anos de viagem. Quando o gigante azul surge nos ecrãs da NASA em 26 de agosto de 1989 a Voyager 2 sobrevoa-lhe o polo norte a pouco mais de quatro mil quilómetros de distância, o que é suficiente para confirmar a existência de uma atmosfera complexa.
A última imagem da Voyager 2 será captada quando a sonda já se afastava para além dessa última fronteira e mostrando não só Neptuno, mas também a sua lua, Tritão.
Entretanto, os cientistas continuaram a dar indicações à sonda Voyager 1 para cumprir nova missão: o envio da sua última imagem onde constam todos os planetas do Sistema Solar numa perspetiva única e em que a Terra aparece como um pequeno ponto azul.
Foi então que os cientistas desligaram as câmaras para lhes poupar energia e permitirem prosseguir a missão para ainda para mais longe. Cinco instrumentos ainda continuaram a enviar dados para a Terra. Em 2012, quer a Voyager 1, quer a 2  chegaram ao limite da heliosfera, ou seja ao ponto em que o Sol deixa de exercer a sua influência no espaço circundante. Hoje elas continuam a enviar sinais mesmo estando muito mais distantes do que se imaginaria, que pudessem continuar a confirmar a sua operacionalidade.
Só daqui a 40 mil anos é que as sondas irão passar noutro sistema estelar constituindo o legado desta espécie, que provavelmente já estará extinta, quando a mensagem nelas contidas chegar a quem tente decifrar a mensagem enviada.




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