Na excelente série televisiva «Roma» (2005), cuja produção foi inopinadamente abortada por um dos financiadores (BBC) por falta de verbas para tão avantajados cenários e guarda-roupas, coloca-se às tantas a questão de saber quem tem razão: se Júlio César se os seus opositores, que contra ele conspirarão até ao assassínio.
E os dados são estes: embora só reconhecendo direitos políticos aos aristocratas, a República seria mais democrática do que o regime imposto por César e que o transforma num imperador? Se, no primeiro caso, o poder não estava na posse de um único homem (mas estava-o decerto na de um grupo!), também é verdade que, mais do que a participação política, os cidadãos estavam bem mais interessados em que existissem empregos com que se sustentassem.
É esse o dilema que um dos assessores de César coloca ao ético Lúcio Vereno, que nos serve de guia orientador nesse mundo: pode-se prescindir de democracia em proveito de melhores rendimentos?
Em Singapura um ditador quis provar a validade dessa proposta. Quando por lá passei em tempos idos o ambiente era claustrofóbico (sabíamos que até poderíamos ser punidos por um papel atirado para o chão!), mas os que ali viviam pareciam acomodados à situação.
Não admira que, no início do seu (des)governo, passos coelho tenha confessado a sua admiração por esse modelo que, implicitamente, desejaria aplicar a Portugal. Como Erdogan o terá intentado na Turquia mais recentemente.
Mas nem Portugal está na Ásia, para onde se deslocou parte da economia mundial com a inerente facilitação do crescimento económico, nem o seu atual primeiro-ministro mostra engenho para se inscrever num modelo bem sucedido de cesarianismo.
Azar dele: mais sem dinheiro e sem direitos sociais, os portugueses colocam a exigência democrática como um imperativo de que não abdicam!
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