O primeiro filme em que me deparei pela primeira vez com o estranho olhar de Charlotte Rampling terá sido em «Zardoz», que John Boorman rodou mo mesmo ano da nossa Revolução dos Cravos e tendo como outra grande novidade a de encarar Sean Connery dissociado da sua tradicional personagem de agente secreto. No entanto, o papel, que mais me impressionou foi a da mulher angustiada com o desaparecimento do marido na praia e incapaz de se libertar do seu obsessivo fantasma.
«Sous la Plage» foi o filme de François Ozon, que a resgatou de uma depressão aparentemente irreversível e a devolveu para uma brilhante e movimentada segunda carreira cinematográfica. Nestes últimos anos desde a entrada no milénio, o seu sucesso tem sido tal, que já se anuncia a sua participação na nova temporada da série «Dexter».
No entanto, ela iniciara a sua carreira cinematográfica no seu país natal, a Inglaterra, a meio dos anos 60, quando a sua magreza associada á especificidade do seu olhar estava em conformidade com a imagem das jovens teenagers da Swinging London..
Um trauma levá-la-á a deixar Londres e a buscar refúgio em Itália: a morte brutal da sua irmã em 1966. Visconti vê nela a atriz ideal para protagonizar «Os Malditos», um filme polémico sobre as perversões de uma família de industriais alemães comprometidos com o nazismo.
Essa interpretação talhou-a para outros papéis em que se revelavam os recantos mais inesperados da personalidade humana: «Porteiro da Noite» de Liliana Cavani vem nessa linha e supera em controvérsia o filme do realizador de «Senso».
Essa fama sulfurosa nunca mais a irá abandonar: em «Max Meu Amor» de Nagisa Oshima ela é a mulher de um diplomata, que a todos escandaliza devido aos seus amores com um chimpanzé. E, mesmo mais recentemente, ela interpretou um dos principais papéis de «Melancolia» de Lars van Trier.
Justifica-se assim a sublime definição da sua personalidade revelada pela réplica por ela dada ao personagem interpretado por Woody Allen em «Stardust Memories»: sou fascinante e perigosa.
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