O fracasso da Primavera Árabe - que não cumpriu as suas promessas democráticas, apenas servindo para dar asas ao terrorismo dos fundamentalistas islâmicos - já conhecera um exemplo precursor na Guerra Civil argelina do início dos anos 90 do século XX.
O filme realizado e protagonizado por Djamila Sahraoui regressa a esse passado e mostra como ela, na pele da camponesa Ouardia, vive numa zona isolada muito próxima das montanhas aonde se acoitam os guerrilheiros islâmicos liderados pelo seu filho Ali.
Apesar de vigiada por um dos guerrilheiros - cujo braço fora amputado por uma explosão - Ouardia obstina-se em dar vida à sua horta em luta constante com o avanço do deserto. Mesmo que tenha de passar o tempo a partir pedra e a escavar a terra dura.
Mas a vontade em contrariar os obstáculos que a rodeiam ainda mais se afirma, quando Ali lhe surge um dia, bastante ferido, e com o filho nascido dos seus amores com Malia, a quem Tarik também amara. Agora, sem a mãe, morta no parto, a criança será uma bênção para a determinação da avó ainda mais se vincar.
A fotografia do filme é sublime e Ouardia lembra as personagens da tragédia grega entre a vingança e o perdão, com um final a condizer.
Aquele recanto da montanha torna-se num espaço fechado em si mesmo onde as relações entre as personagens são complexas e subtis, senão mesmo doces e violentas para recordar como foi violento o fratricídio entre argelinos.
Sem comentários:
Enviar um comentário