quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DOCUMENTÁRIO: «O negócio do comércio justo» de Donatien Lemaitre

Quantas vezes já fomos tentados pelo chamado «comércio justo» em detrimento do que resulta das trocas tradicionais entre centros comerciais ou hipermercados e clientes?
Na Europa há cada vez mais consumidores a pugnarem por um comércio ético, baseado nas etiquetas que deverão dar sentido aos produtores de bens e mercadorias integrados nessa rede internacional. Porque significarão, que os pequenos produtores africanos ou latino-americanos terão sido devidamente pagos para a criação dessa matéria-prima, sem se curvarem aos ditames dos importadores e cadeias de distribuição vinculados à economia globalizada.
Max Havelaar, Rainforest Alliance são marcas que estão a crescer graças à confiança dos seus consumidores. Mas qual é a realidade para lá das etiquetas? Foi esse o objetivo que levou Dominique Lemaître do México ao Quénia passando pela República Dominicana para demonstrar como essa ideia generosa do comércio justo está a ser recuperada pelos especialistas de marketing ou por multinacionais sem qualquer sintonia com o objetivo dos seus criadores.
Os primeiros a quererem apossar-se das marcas de comércio justo foram as grandes cadeias de distribuição: estarão os “consumidores”  preparados para pagar mais caro o seu café se os produtores  forem melhor remunerados? As grandes superfícies passaram a atribuir mais espaço aos produtos com as etiquetas do comércio justo. Mas, ao mesmo tempo, aumentaram a margem de lucro em tais produtos.
Assim, enquanto os produtores do comércio justo ganham pouco mais do que os demais concorrentes (e sem jamais saírem do patamar de pobreza em que se encontravam!), as grandes insígnias aumentam os seus lucros.
E, mesmo pelo lado dos produtores, o sistema também não se mostra irrepreensível: o realizador constata que nas plantações de bananas da República Dominicana os pequenos proprietários, que exportam de acordo com a etiqueta max Havelaar exploram o trabalho escravo de trabalhadores haitianos ilegais.
Conclui-se que o comércio justo tem as suas cooperativas, os seus programas de crescimento, mas também as suas componentes obscuras…
Outra surpresa: para corresponder à procura crescente de bananas com a etiqueta de comércio justo, a Max Havelaar também atribuiu a sua etiqueta a grandes produtores: na empresa Savid exportam-se 150 toneladas semanais de bananas graças a trabalhadores haitianos mal pagos e mal alojados, mesmo que legalizados. Assim, o consumidor europeu, que se julgava a contribuir para os pequenos plantadores do Terceiro Mundo, acaba por dar ainda mais dinheiro a ganhar às grandes explorações em regime de latifúndio.
É caso para nos questionarmos se não chegámos ``a fase da industrialização do comércio justo?
A concluir o documentário Donatien Lemaître interessa-se pelas multinacionais do setor agroalimentar. Desloca-se então ao Quénia para verificar o partenariado entre a Rainforest Alliance e a Lipton, do grupo Unilever, que garante lucros substanciais às duas partes, mas de forma alguma aos trabalhadores sazonais das plantações de chá.
O documentário mostra que, sendo uma bela ideia, o comércio justo está a dar lucro a quem já dominava anteriormente o comércio internacional.


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