Da leitura da entrevista a Passos Coelho no «Público» deste sábado fica a confirmação do que já se adivinhava: o seu futuro profissional está tão bloqueado pela imagem de si configurada, que só tem a política como derradeira alternativa.
É impensável sabê-lo com capacidades empresariais como as de Miguel Relvas ou de Paulo Portas, que andam a fazer render as carteiras de contactos oportunamente elaboradas enquanto estiveram no governo. Podem não ter conhecimentos de gestão ou de economia, mas constituem sempre lobistas de gabarito para quem deles pretende as influências para baterem às portas certas e possibilitarem o sucesso dos negócios, que representam. Algo que também levou os ingleses da Arrow a contratarem Maria Luís Albuquerque, embora no seu caso pressentimos que compraram gato por lebre...
Passos também não possui as competências de Moreira da Silva que, por mérito próprio, concorreu e foi escolhido para um lugar na OCDE.
Resta-lhe, pois, bater-se por cumprir o mandato de presidente do PSD até às próximas legislativas e ainda apresentar-se a elas como o challenger de António Costa. É que, mesmo perdendo e sendo demitido, sempre garantirá mais quatro anos na Assembleia da República. Assim como assim, passados estes sete anos, já poderá reformar-se e não se sujeitar a empregos manhosos nas Tecnoformas e coisas similares.
Que lhe importa ver o PSD definhar até lá, secando tudo à sua volta como os eucaliptos? Conquanto ele e os seus cortesãos se safem, é quanto importa.
É por isso mesmo que estão criadas as condições para um longo ciclo de esquerda no poder, porque se o CDS de Assunção Cristas prosseguir a captação de uma parte dos apoiantes de Passos Coelho, assistiremos a um bom combate entre os dois partidos da direita para aferir qual deles conseguirá liderar essa parte do eleitorado.
A ser assim poderemos congratularmo-nos por existirem as condições bastantes para se concretizarem muitos dos objetivos da Agenda para a Década tal qual foram apresentados por António Costa há pouco mais de um ano.
Ora Portugal necessita de um período extenso em que as transformações sejam exequíveis em função de circunstâncias favoráveis, não só externas, mas também internas. Quanto a estas últimas poderemos vir a agradecer a Passos Coelho o facto de, depois de tanto mal nos ter feito, nos compense com o desempenho que lhe temos conhecido desde a sua passagem do poder para a oposição.
Roy Lichtenstein
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