Nunca senti qualquer atração pela instituição monárquica. Nem sequer, quando em miúdo, me davam a ver aquelas histórias xaroposas sobre príncipes e princesas que serviriam por essa altura a Bruno Bettelheim para as detalhar nos seus eloquentes significados psicanalíticos.
Na altura de estudar História lusa encontrei matéria de sobra para ver muitos dos reis como brutos analfabetos (Afonso Henriques), assassinos sádicos (Pedro I ou João II), crédulos (Dinis enganado pelas rosas da rainha), atrasados mentais (Afonso VI), patetas estúpidos (Sebastião) ou beatas de um atroz fanatismo (Maria I). E ainda não tinha lido as Grandezas e Misérias dos Príncipes de Portugal que, pela pena mordaz de Aquilino Ribeiro se revelavam adúlteros, incestuosos e com outros defeitos que tais.
Mas as tropelias de reis e rainhas de outras latitudes não se revelavam mais dignas de admiração: essa passagem de poder de pais para filhos entre poucas famílias, todas elas entrelaçadas entre si, acabavam por gerar problemas sérios de consanguinidade, que resultavam, amiúde, em perversões mais ou menos escondidas no recato das cortes comprometidas. E aspirar a tampax da concubina foi apenas um colorido exemplo recente!
Até ao Iluminismo a realeza ainda podia invocar o seu estatuto quase divino, servindo de representantes do poder celeste na Terra. Mas as mentes dotadas das ferramentas cartesianas e da sofística grega começaram a criar perguntas para as quais a Igreja deixava de ter resposta abrindo espaço para o cada vez mais influente ateísmo.
Hoje as monarquias são uma das muitas aberrações do nosso tempo. Podem justificar-se por garantirem receitas turísticas (confesso que não resisti a espreitar as rendições da Guarda Real em Westminster e em St. James nalgumas das vezes que estive em Londres!) ou apenas como símbolo identitário de quem verdadeiramente o não tem aprofundado, que é o que sucede com as realezas escandinavas ou do Benelux.
Neste 5 de outubro reafirmo-me como Republicano, ateu e socialista. Defendendo que são os povos quem devem escolher os seus líderes sempre sujeitos ao escrutínio do seu voto. Sem invocarem regalias de sangue azul ou de representação divina. É esse um dos imperativos da tal Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que a Revolução Francesa impôs como valores universais. Ainda que, infelizmente, o tardem a ser…
E é sobretudo uma Ética feita de valores sobre os quais devemos ser intransigentes: o do orgulho em servir o interesse público, o da probidade, o do respeito pelo Outro, o do conhecimento. Não ignorando que ser ou não republicano, também é cada vez mais uma linha de distinção entre quem se situa na esquerda ou na direita do espectro político.
Não é por isso de admirar que se volte a ter nesta data o feriado, que Passos Coelho e Cavaco quiseram negar aos portugueses durante o seu tenebroso consulado!
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