À medida que nos aproximarmos da primeira terça-feira de novembro será crível que apareçam mais vídeos comprometedores capazes de arrepiar as consciências de muitos ainda na dúvida quanto a votarem em Trump, em Hillary ou simplesmente não votarem. O de ontem, em que o candidato republicano dava largas à sua característica misoginia, é só mais um exemplo típico de uma personagem para quem a cor dourada esgotou-se totalmente nas tintas do cabelo não sobrando para dar substância ao silêncio do provérbio. Quem por estes dias se dedicar à pesca nos arquivos audiovisuais, espalhados um pouco por todo o lado, encontrará por certo mais exemplos eloquentes do seu comprometedor histrionismo.
Já moderadamente descansados com a eleição de Hillary - mas não esquecendo o seu alinhamento congénito com a cleptocracia de Wall Street! - poderemos olhar mais objetivamente para estas eleições e nela constatar sinais por ora escondidos por trás da poeira levantada pelo candidato mais espalhafatoso.
Podemos, por exemplo, aprofundar o que Serge Halimi acaba de escrever no editorial da sempre imprescindível edição deste mês do «Le Monde Diplomatique » em língua portuguesa. É que estando o sistema mais que viciado - Ana Drago designa-o como um «cadáver esquisito» a apodrecer! - as eleições deste ano prenunciam mudanças em curso, que não se desenvolveram suficientemente desta vez, mas com reflexos futuros em próximas ocasiões.
No entretanto “os governantes, republicanos e democratas, [que] desencadearam guerras no Médio Oriente, que empobreceram os Estados Unidos sem lhes dar a vitória” continuarão a fazer “a maioria da população pagar as consequências de uma crise económica que, por outro lado, nada custou aos que a provocaram”.
Para já a forma de autodefesa desse sistema viciado passa por manipular os resultados eleitorais. Por isso mesmo seis milhões de cidadãos, que tiveram condenações na justiça (até por pequenos delitos!) perderam de vez os seus direitos de votarem em quem sintam que os possa representar. 11% dos cidadãos (invariavelmente os mais pobres e os que careceriam de melhores políticas!) não possuem os documentos necessários para conseguirem o acesso às urnas de voto.
E não esqueçamos o dinheiro, a comunicação social, os lóbis e o desenho das circunscrições de voto de forma a favorecer os candidatos preferidos por quem está instalado no poder.
Tudo é feito para reduzir a escolha dos cidadãos aos dois partidos dominantes impedindo que a escolha democrática se divida, de facto, por mais alternativas potenciais.
Com os seus 12 milhões de votos nas primárias Bernie Sanders anunciou que outra alternativa é possível já havendo outros tantos eleitores sem quaisquer receios em se identificarem com uma proposta politica assumidamente socialista.
Eles e os que se lhes vierem futuramente a juntar serão os que, sacudindo o medo, tudo farão para que o imobilismo nas políticas decididas em Washington se quebre e algo de substancial mude. Porque Obama, que prometeu ser o arauto dessa esperança, conseguiu desiludi-la e acaba o mandato como alguém que só devido à sua cor da pele encontrará razões para que a História dele se lembre...
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