Há dois anos, quando ganhou as Primárias do Partido Socialista e começou a criar as condições para se tornar no futuro primeiro-ministro de Portugal, António Costa deu-me a esperança de ver o meu Partido depurado dos carreiristas hábeis em jogos de bastidores, como era timbre da maioria dos que, então, foram derrotados.
Infelizmente essa operação higiénica não chegou às estruturas locais onde podemos continuar a ver repetidas, invariavelmente, as más práticas anteriores, assumidas pelos que viraram entretanto a casaca e hoje surgem como os maiores apoiantes da atual Direção. Embora disfarçado continua a existir um segurismo larvar, mesmo sem a tutela do seu então inspirador.
Vem isto a propósito do que está a acontecer no PSOE e com a provável ascensão a secretária-geral de Susana Diaz, que corresponde a esse mesmo retrato dos que se dizem com princípios, mas logo dispostos a tomar outros por seus se aqueles não forem aceites.
Um exemplo? Ela foi uma opositora férrea da tentativa de Pedro Sanchez criar uma coligação de governo com o Podemos de Pablo Iglésias, mas perante os seus medíocres resultados nas regionais logo cuidou de se manter à frente do governo da Andaluzia mediante um acordo com … esse mesmo Podemos.
Estamos, pois, perante mais uma autêntica implosão de um partido, que já teve uma identidade operária (daí o Obrero na sua designação), mas agora se dá muito mais com as elites endinheiradas, para cujo apadrinhamento rivaliza com Rajoy.
Eu bem gostaria de dar aos meus amigos sociais-democratas o consolo de lhes reconhecer a razão, mas a verdade dos factos manda confirmar que um Partido Socialista sem ideologia (com as suas imprescindíveis referências marxistas!) e apenas apostado em chegar ao poder seja lá como for, está condenado ao estiolamento.
Se a generalidade dos socialistas internacionais não cuidar rapidamente de encontrar modelos de governação eficientes e capazes de corresponderem às aspirações dos respetivos povos, morrerão sem causar grandes estados de alma em quem lhes fizer o funeral. E ver-se-ão substituídos pelos que compreendem melhor as características das lutas de classes neste século XXI, já à beira da sua terceira década.
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