Andamos muito justamente indignados com as palavras injuriosas de Donald Trump sobre as mulheres, mas suficientemente distraídos para deixarmos passar sem sobressalto a notícia da semana passada sobre a decisão do Tribunal da Relação de Coimbra, que considerou sem «dignidade penal» o crime praticado sobre uma mulher de São Pedro do Sul a quem um energúmeno se terá dirigido na rua a dizer-lhe: "Comia-te toda! És toda boa! Pagavas o que me deves!"
A injúria era tão gravosa, que a vítima do tratante procurou ver reconhecida nos tribunais a natureza crapulosa da agressão a que fora sujeita em público. A esta hora deverá ainda estar a tentar perceber em que país vive, depois de ver o biltre regressar ao conforto da sua marialvice com a sensação vitoriosa de poder prosseguir na mesma via, porque contará com a solidariedade implícita da coutada de machos lusitanos, que ainda continuam a ser certos tribunais.
Bem tentou Fernanda Câncio chamar a atenção para o caso numa crónica no «Diário de Notícias», que ele não ganhou a relevância merecida.
O que se comprova é não existirem apenas Trumps na América: eles estão entre nós e não apenas no lúmpen onde se compreenderia que fosse o espaço previsível para que existisse uma tal «compreensão» com forma tão desprezível de menorizar as mulheres.
Afinal três juízes com carreira bastante para se sentarem num tribunal superior confirmam o estado da nossa Justiça, aonde se considera normal tratar as mulheres como meros objetos sexuais a quem se pode achincalhar sem temer quaisquer consequências.!
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