O país está suspenso da votação desta noite nas Nações Unidas, quando se compreender se António Guterres terá ou não condições para ser eleito secretário-geral.
Aconteça o que acontecer, Angela Merkel já conseguiu mais um efeito com significado: aumentar o número de eurocéticos em território nacional, cada vez mais indignados com os jogos de poder numa União onde a Alemanha quer sempre ver consagrados os seus interesses próprios.
Mas o mais burlesco seria ver a Rússia não votar em Kristalina Georgieva, como alguns logo se apressaram a reconhecer na posição russa, mas na outra búlgara que ela quis afastar com os cotovelos sem cerimónias. Nesse caso os danos de uma derrota calamitosa da sua marioneta, causaria danos ainda mais rotundos na já abalada imagem política da chanceler. Depois da iminente falência do Deustche Bank nada poderia confortar-lhe as feridas das mais recentes derrotas.
No entretanto mantém-se a campanha internacional, comandada provavelmente de Fort Langley, que nos inunda de imagens sobre os crimes de Assad, mas nos veda o conhecimento de quantos são praticados pelos jiadistas, que ele combate, a maioria dos quais associados à Al Qaeda ou ao Daesh. Para não falar de outros crimes em que a região abunda, desde os roubos sistemáticos de territórios palestinianos em proveito de colonos israelitas ou do tipo de democracia praticado na Arábia Saudita ou no Qatar, supostos aliados do Ocidente, mas reconhecidos financiadores do terrorismo que o afeta.
Por cá esteve a ativista curda Nursel Kiliç, que se mostrou fundamentadamente otimista quanto ao futuro do seu povo. Numa entrevista a Sofia Lorena do «Público» disse o que já aqui prognostiquei a respeito de Erdogan: o seu fim será violento.
Eis um extrato dessa entrevista: “A Turquia está num grande impasse. Ou escolhe reconhecer a realidade dos curdos, assumir que existimos e temos direitos, ou terá o mesmo destino que o Afeganistão ou um Iraque. Caminhará para ser um Estado falhado. É nessa fase que estamos.
Se a Turquia acabar assim, não excluo que Erdogan tenha um destino como o de Saddam Hussein ou Kadhafi . Eu vi o medo no rosto dele na noite do golpe falhado. Sim, ele adotou uma estratégia de excesso de violência que só se pode explicar com este terror de quem está a perder o controlo, o poder.”
Aqui ao lado Mariano Rajoy estará assaz interessado em formar governo no mais curto prazo possível não vá a agora iniciada saga do julgamento dos casos de corrupção relacionados com o seu partido, complicar-lhe os planos. Será por isso curioso acompanhar o comportamento dos que cuidaram de derrubar o líder do PSOE eleito pelos militantes contra os seus barões, quanto a fazerem ou não o jogo ao manhoso galego.
Na Inglaterra o governo começa a cumprir a agenda isolacionista de impedir quem vem de outras latitudes de aí encontrar trabalho ou estudar. Demorará tempo, mas os efeitos soberanistas acabarão por confrontar os defensores do Brexit com as inesperadas consequências das suas decisões. É que, depois de Boris Johnson ter-se escusado a ser primeiro-ministro, gozando de mordomias bem mais confortáveis na pasta do Foreign Office, também a sucessora de Farage no UKIP só durou dezoito dias nas suas funções. É que mais fácil é ser lobo do que vestir-lhe a pele. E, neste caso, os lobos não tardarão a ver-se sujeitos a acérrimas batidas, quando os que neles acreditaram consciencializarem os danos, que terão causado nas suas próprias carteiras.
Uma última nota para a situação afegã, que continua a repetir-se no já há muito demonstrado: quando se tratou de dali sacudir os soviéticos, o governo norte-americano não olhou a meios de apoio aos mais fanáticos salafistas. Que estes aderissem depois em massa ao jiadismo da Al Qaeda só surpreendeu quem os julgava passíveis de se sujeitarem ao seu controlo. Por isso mesmo o Pentágono é obrigado a reconhecer que os avanços dos talibãs contam com o apoio explicito dos que teriam sido por eles preparados para os travar.
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