quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Para acabar com a confusão entre o «socialismo real» e o marxismo

Os constrangimentos de tempo não me têm permitido dar maior espaço ao que têm sido as contestações do Jaime Santos aos artigos em que defendo um posicionamento claro dos socialistas no alinhamento com o pensamento marxista, não propriamente fazendo dos textos de Marx um dogma, mas atendendo sobretudo ao que muitos académicos europeus e norte-americanos vêm propondo como a sua reaferição para uma contemporaneidade com novas classes sociais e meios de produção.
Por isso convirá aos interessados por estas questões ir olhando para as caixas de comentários do blogue onde alguns dos textos deste nosso leitor atento estão transcritos.
O abaixo transcrito (ao qual voltei a tomar a liberdade de dividir nalguns parágrafos para o tornar de mais fácil leitura!) até nem expressa grandes divergências entre o meu pensamento e o do Jaime Santos: ambos apoiamos claramente a atual solução governativa e desejaríamos o regresso ao setor público de áreas fundamentais da nossa atividade económica.
Discordo, porém, da associação direta entre o chamado «socialismo real» (que depressa se transformou num capitalismo de Estado nada consonante com os princípios marxistas!) e a corrupção, sendo evidente que foi a implosão da União Soviética, e a sua assumida viragem para a liberdade dos mercados, que possibilitou a oportunidade de criação das diversas oligarquias russas. E que, rejeitando igualmente qualquer associação entre a China de hoje e o pensamento marxista, a luta contra a corrupção passa muitas vezes por ajustes de contas entre as várias fações do Partido único, que leva a crer que quem ali anda à chuva tem todas as probabilidades de se molhar. O que equivale amiúde a um tiro na nuca!
Mas estes comentários pessoais já se alongaram demais e atenhamo-nos, pois, ao do Jaime Santos relativamente ao texto em que lamentava o estado calamitoso para que tende o Partido Socialista Operário Espanhol:
“Depende do que quer dizer quando fala em referências marxistas. Nem todo o socialismo é marxista, e eu prefiro um declaradamente utópico a um falsamente científico. Agora, se se refere à herança dos Partidos Socialistas e Social-Democratas na Europa (excluo daí essa coisa esquisita chamada PSD, apesar de Sá Carneiro ter evoluído na direção da Social Democracia), com certeza.
Mas, se quer recuperar o Marxismo, lembro-lhe que a corrupção não tem ideologia e que se há coisa que o Socialismo Real era, era corrupto. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Nesse sentido, o rotativismo e o grande centrão que se formou na Europa é o grande caldo que permite a corrupção.
A nova maioria de Costa, em que o PS está sob a permanente vigilância dos Partidos da Esquerda (porque o PS não é inocente nestas matérias, e não vale a pena ser clubista), é também nesse sentido muito bem vinda. E o programa político de Costa situa-se na boa tradição Social-Democrata.
Ainda não vi Costa querer nacionalizar nada, embora eu próprio gostasse que o Estado readquirisse as redes elétricas ou os aeroportos, ou os correios (o resto pode manter-se privado, que eu vivo bem com isso), mas não há dinheiro.
Aliás, Costa frisou bem que não se revia nas palavras de Mortágua, porque o que interessa é reestabelecer um pouco de justiça fiscal, não andar a combater moinhos de vento e a ameaçar quem comete o pecado de poupar algumas centenas de milhar de euros (em contos, os montantes são menores).
A Esquerda da Esquerda deveria temperar a ética das convicções com a ética da responsabilidade, porque o que não funciona não é moral, por melhores que sejam as intenções..."


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