Este é fim de semana em que, no âmbito do Forum Manifesto, está a decorrer em Lisboa um interessantíssimo ciclo de debates subordinado ao tema «Uma Esquerda para tempos de incerteza».
Neste primeiro dia já se discutiu a «Europa e a Democracia» e «A política já não é o que era:
transformações político-partidárias na Europa».
transformações político-partidárias na Europa».
Independentemente do muito que aqui abordarei de quanto ali se tem dito, importa sublinhar um aspeto interessante verificado até agora: quando se referem às políticas das esquerdas os membros dos diversos painéis enquadram-nas quase sempre na designação de «sociais-democracias».
Essa opção normativa incomoda-me porque se a poderia aceitar o tipo de governação nos países nórdicos nos tais trinta anos gloriosos, não podemos ignorar que a Terceira Via praticada por Blair, Schroeder e Guterres implicou privatizações do setor público, redução dos direitos laborais, ataques ao Estado Social e, no caos português, até o adiamento por dez anos da despenalização do aborto. Data, igualmente, de então a continuidade dos processos de desregulamentação do setor financeiro, que possibilitaria a acelerada financeirização da economia.
São fundamentalmente essas as razões, porque me incomoda ouvir quem, à esquerda, se reivindica hoje da social-democracia, que equivale a uma confissão de vergonha por não se poder confessar socialista, quando hoje em dia - e Bernie Sanders demonstrou-o! - nem sequer os norte-americanos fazem do termo um bicho de sete cabeças.
Confesso, pois, a minha total adesão à proposta final de José Vítor Malheiros em proceder-se a uma reaferição muito criteriosa dos vocábulos com que definimos os conceitos que nos ocupam, porque até se dá o caso de Passos Coelho se mostrar um dedicado teorizador do que é, na sua perspetiva, a social-democracia em que se julga enquadrar...
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