Um dos lapsos, porventura não tão involuntários quanto se quer fazer crer, é ter-se proclamado ser esta a semana em que o governo de António Costa cumpriu um ano no poder. Vai daí a SIC não encontrou melhor forma de comemoração do que convidar Passos Coelho para uma entrevista com mais do mesmo que lhe temos ouvido.
Mas a efeméride é redondamente falsa: há um ano as esquerdas ganharam as eleições contra as golpadas da direita, mas Cavaco, depois de tudo ter feito para o impedir, lá teve de se conformar com a aceitação dos factos mais de mês e meio depois. Por isso, se se quer comemorar um ano de governo, pense-se nisso na última semana de novembro!
Curioso, igualmente, como se continua a mistificar a realidade considerando-se o PSD o maior partido português. Falso, redondamente falso! Foi a coligação do PSD e do CDS, que conseguiram mais votos do que o PS e só o método de Hondt permite que o seu menor reconhecimento eleitoral dê à bancada laranja mais deputados do que a socialista.
Interessante, igualmente, olhar para a deturpação dos indicadores de desempenho da economia, que leva a maioria dos comentadores alinhados com a direita a dizer que não há crescimento, quando ele está efetivamente a recuperar depois da abrupta queda verificada no último semestre de 2015. Atrevem-se ainda a falar do desemprego, quando nunca se criaram tantos postos de trabalho como nos últimos sete meses, com o número de assalariados a constituir um aumento efetivo.
Mas, um ano depois da derrota da direita, valerá a pena imaginar o filme de terror em que estaríamos convertidos em figurantes, se Passos Coelho tivesse prosseguido nas funções de primeiro-ministro: privatizar-se-ia o que ainda faltava retirar do setor público (as águas, a CGD, os transportes públicos, etc.), mudar-se-ia a Constituição para perenizar a direita no poder e os reformados bem poderiam dizer adeus a seiscentos milhões de euros!
Ufa! Se isto não justifica que nos congratulemos pelo fim do pesadelo, não sei que mais será preciso?
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