1. Desde o primeiro momento, que fui um entusiasta desta maioria parlamentar mas, infelizmente, vou constatando os sinais de uma degenerescência na relação entre os partidos que a constituem com a deslealdade a ser cada vez mais uma evidência. Aspirava a ver perdurado um tempo novo com as esquerdas seriamente empenhadas em demonstrarem a viabilização de um projeto comum e ele torna-se cada vez mais distante.
O melhor exemplo de que isso está a acontecer é o do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais. Uma vez mais, e sabendo como a situação financeira do PS está complicada, são os partidos das esquerdas a fazerem o jeito à direita para quem o melhor seguro de vida será a sua inoperacionalidade por falta de recursos.
A Democracia tem um custo e ele passa pelo financiamento dos partidos pelo Orçamento Geral do Estado e de acordo com a sua representatividade, defendeu o Pedro Marques Lopes no «Eixo do Mal», só acedendo complementarmente à existência de quotizações dos militantes. A alternativa, ou seja, partidos dependentes de financiamentos de empresas ou de interesses corporativos, só tornarão essa Democracia num simulacro como sucede nos Estados Unidos onde cada candidato a um cargo público, desde xerife ou promotor de uma pequena cidade até a quem aspira à Casa Branca tem de se munir previamente de um orçamento avultado e de quem lho possa financiar. Com o que de falta de liberdade de ação isso implica.
Será isso que os nossos políticos, mormente os das esquerdas coligadas momentaneamente ao PS pretendem?
2. Sobre as vantagens da existência da CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa - haveria muito a discutir, aproveitando o ensejo de mais uma cimeira a decorrer por estes dias em Brasília. Mas tudo ainda causa maior espanto quanto se sabe de nela ter entrado a ditadura de Obiang - há quase quarenta anos no poder! - enquanto outros países «lusófonos», como as ilhas Maurícias, a Namíbia, o Senegal, a Turquia, o Japão e a Geórgia têm aí assento como observadores. Estatuto que se prepara para ser, igualmente, atribuído à República Checa, à Eslováquia, à Hungria, à Costa do Marfi m e ao Uruguai.
Com tanto país «lusófono» podemo-nos admirar com estas malhas que o Império tece!
3. Tendo sido um líder fraco, por se ter visto acossado pelos discípulos de Felipe Gonzalez desde a primeira hora - mormente pela líder andaluza Susana Diaz, que esse setor conotado com a Terceira Via pretendia efetivamente ver à frente do Partido - Pedro Sanchez poderá ter ganho segunda vida com a sua demissão de deputado e a implícita candidatura às primárias, que decidirão a nova liderança.
Se a repetição das eleições poderia ser complicada para o PSOE - muito embora as sondagens conhecidas tenham em si muito que suspeitar, nomeadamente as encomendadas pelo «El Pais», que passou a hostilizar Sanchez depois de nunca o verdadeiramente ter aceite como legítimo líder socialista! - agita-se um papão, que poderá não fazer qualquer sentido. É que Rajoy tinha uma janela de oportunidade muito curta para ser empossado como presidente do governo espanhol, agora que a Justiça prepara-se para esmiuçar detalhadamente os muitos casos de corrupção relacionados com o PP e com alguns dos seus mais próximos colaboradores dos últimos anos.
A ameaça de dissolução do parlamento espanhol a partir de maio por sua iniciativa será muito improvável, porque a dimensão dos escândalos tenderá a acossá-lo no seu frágil reduto. Será, então, possível a Sanchez, tão-só reconquistada a liderança do partido, pôr a render a insistência com que agora quis forçar a rejeição da direita no poder.
Malangatana
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