As mais recentes sondagens vão confirmando a vitória de Hillary Clinton nas eleições da primeira terça-feira de novembro. Aparentemente resolvida a pugna presidencial, iremos olhar para a composição da Câmara dos Representantes e do Senado para verificar se, ambos tomados pelo Partido Democrata, possibilitarão uma viragem política efetiva numa América que, desde Ronald Reagan, tem sido comandada pela vontade dos mais conservadores.
Fareed Zakaria, um dos respeitados comentadores da realidade do seu país, já prevê a possibilidade da morte do Partido Republicano. É que a sua contínua deriva para a extrema-direita ter-se-á tornado tão irreversível até redundar na grotesca candidatura de Trump, que dificilmente poderá renascer das cinzas resultantes da eventual derrota humilhante nas próximas eleições. Algumas sondagens até já dão conta do quase inacreditável, que é a forte possibilidade de uma vitória democrata no Texas, apesar de quase ter sido ignorado pela campanha de Hillary, que o dava à partida como perdido.
Esta derrota republicana também o é das medidas contidas na cartilha identitária a que se agarrara nos últimos anos: a redução das despesas sociais, a vida económica liberta dos constrangimentos do poder público ou os cortes nas ajudas aos desempregados. Tudo medidas que se tornaram tão impopulares, que até Trump as omitiu dos seus discursos. Mas, no campo democrata, Hillary foi confrontada com o facto de o seu eleitorado ser muito à esquerda do que defende, exigindo-lhe distanciamento a essas grandes empregas cuja ganância evidenciada nos últimos anos justificou que já ninguém acredita na falaciosa associação entre a sua prosperidade e a do país..
Embora já ninguém o leve a sério, Trump não deixa de ter razão, quando afirma: “os nossos políticos promoveram com vigor uma política de globalização. Esta enriqueceu a elite financeira que contribui para as suas campanhas. Mas milhões de trabalhadores americanos apenas retiraram dela miséria e agonia.”.
A evolução tecnológica, cuja importância na transformação iminente das nossas vidas, aqui tenho empolado, obrigará a mudanças, que porão também provavelmente em causa o próprio Partido Democrata se não souber alterar-se convenientemente de forma a garantir a sua resiliência.
Serge Halimi, na mais recente edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique» pergunta a respeito dos trabalhadores norte-americanos: “Como será o seu futuro pós-industrial quando todas as minas de carvão que os empregam tiverem fechado, quando os motoristas de táxi e de camião tiverem sido substituídos por veículos auto-pilotados pela Google, quando as caixas de supermercado se tornarem scanners e os operários robôs? Serão todos programadores? Todos servidores? Todos auto-empregados, que farão a entrega de pratos cozinhados e encomendados por uma aplicação de telemóvel, que arrendarão quartos a turistas, que serão jardineiros da natureza ou assistentes ao domicílio?”
A mudança está a ser tão acelerada, que a eleição da primeira mulher para a Casa Branca arrisca-se a ser notícia de rodapé numa revolução social e económica, que não tarda aí!
(Turner)
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