Num artigo interessante inserido ontem no «Público», Tiago Moreira de Sá considera estarmos num momento muito particular da História norte-americana, caracterizado pela redução demográfica dos brancos anglo-saxónicos e protestantes e o crescimento das minorias, muito particularmente a de cultura hispânica.
Os Estados Unidos estão a mudar rapidamente de identidade e esses brancos, muitos deles votantes de Trump, consideram que o país está-lhes a ser roubado.
O fenómeno populista, que tanto nos tem surpreendido pelo primarismo e falta de escrúpulos, mais não é do que o dobre de finados por um exercício de poder definitivamente posto em causa há muito tempo, ou não tivessem as vitórias de Obama significado essa evidência.
Mas o que Tiago Moreira de Sá prognostica é a possibilidade de uma mudança violenta durante este período de um poder que definha e outro ainda por afirmar: “Na teoria das relações internacionais existe um vasto campo de estudo sobre as chamadas “transições de poder” que, por analogia, é muito útil para perceber o que se passa — e passará — na América. A ideia principal é a de que as transições de poder, que resultam do declínio da “potência dominante” e da ascensão de uma “potência secundária”, são o momento mais perigoso da política internacional, sobretudo na fase de equilíbrio entre ambas, acabando uma delas por iniciar uma guerra de cujo resultado dependerá a detenção do domínio.”
Por isso mesmo o articulista considera que ninguém pode ficar descansado no dia seguinte às eleições, porque a vitória retumbante de Hillary poderá significar uma revolta desesperada nos derrotados, que são dos mais acérrimos defensores do direito a possuírem armas para defesa pessoal.
Com tantas milícias antifederalistas espalhadas pelos Estados mais conservadores não serão de espantar focos de violência, que vão muito para além das habituais matanças suscitadas por psicopatas ou dos assassinatos legais de negros por polícias com muita ligeireza no gatilho.
A evolução política norte-americana constituirá matéria de estudo assaz interessante nos tempos mais próximos.
Edward Hopper
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