Agora que toda a gente já almoçou ou jantou com António Guterres, o abraçou, o viu em miúdo e em graúdo, pouco tenho a acrescentar a não ser a minha satisfação à da generalidade dos portugueses e identificar um facto insofismável: se olharmos para os grandes acontecimentos em que o país esteve envolvido desde o 25 de abril foi muito mais frequente, que os galvanizadores, os que suscitaram grandes motivos de orgulho nacional ocorreram com governos do Partido Socialista do que com os da direita. Foi assim com a entrada na CEE, com a Expo 98, com a independência de Timor, ou, mais recentemente, com o Europeu de Futebol e com a atual eleição para secretário-geral das Nações Unidas.
Por natureza e cultura, os socialistas puxam o país para cima, potenciam-lhe o talento e as competências enquanto a direita tende a empurrar-lo para baixo, para o servilismo abjeto perante quem considera ter mais poder e a quem se pretende manhosamente colar. As esquerdas dão a cara, contestam, reivindicam. As direitas submetem-se, albergam-se na sombra de schaubles, de merkels ou de goldman sachs, tal como no passado faziam com os espanhóis em 1383 ou em 1580. Muito embora tragam a pátria na boca e na lapela são os primeiros a vergá-la de acordo com as suas conveniências pessoais.
Por isso mesmo Sophia classificou de manhã límpida aquela em que nos livrámos da cinzentude fascista ou o embaixador Seixas da Costa assinalava no twitter não se lembrar de assistir a tantos dias luminosos de seguida como os que vêm ocorrendo. Ou ainda tenho comigo a referência de uma amiga do facebook, que afirma agradecer a António Costa todas as manhãs a oportunidade de se ter livrado do terror em que os portugueses estavam mergulhados até há um ano atrás.
Vivemos num período aprazível das nossas vidas em que a Esperança num futuro melhor volta a fazer sentido para a grande maioria das famílias. Por isso mesmo é algo que deveremos acarinhar, fazer tudo por perdurar.
É que os inimigos internos e externos não dormem. Vítor Gaspar continua a mostrar-se tão letal como quando se deu a conhecer aos portugueses e se lhes tornou tão sinistro como o era Bela Lugosi para as plateias que, nos anos 30, se intimidavam com as malfeitorias cinéfilas do Drácula. A chanceler alemã pode contrair gravosa raiva depois de tantas chagas acumuladas nas últimas semanas, e manifestar perigosos ímpetos vingativos (vide o que o comissário alemão se atreveu a dizer esta semana em Lisboa).
É por isso que dou razão a Pacheco Pereira quando ontem, na «Quadratura do Círculo» sugeriu que as coisas só poderão a continuar a correr bem se as esquerdas aprofundarem as razões das suas convergências e cuidarem de criar uma forte base social de apoio à maioria atual, fortalecendo-a, dando-lhe capacidades para prosseguir o mais duradouramente possível o seu trabalho de transformação do país.
E, por isso mesmo não me agrada nada o tom incomodado de Jorge Coelho que, nas referências a Mariana Mortágua, confirma o que dele suspeitamos: dentro do PS integra o núcleo dos que estão mais interessados no «business as usual», desejando o fim deste parêntesis para que volte a frutificar a cultura de interesses normalmente assimilável ao execrável «arco da governação».
Valha-nos ter por líder alguém tão arguto como o é António Costa: mais do que saber por onde não quer ir, ele sabe bem a direção a tomar no rumo certo para o país crescer e desenvolver-se.
Nikias Skapinakis, «Delacroix no 25 de abril em Atenas», 1975
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