1. Olho para as notícias das nove da noite e dou com Jerónimo de Sousa a dissociar o PCP da ampla coligação engendrada pelo PSD para pôr em causa a reestruturação da Caixa Geral dos Depósitos.
Como aqui tenho escrito, venho manifestando o agastamento com a forma pouco inteligente como, neste caso concreto, vejo as esquerdas desunidas no essencial: depois da direita ter levado o grande banco estatal quase até à falência de modo a facilitar-lhe o velho projeto de o privatizar, seria estulta a colaboração do PCP e do Bloco para que tal projeto renascesse das cinzas.
Após este reencontro do PCP com o que de melhor tem a atual governação, fundamentada na maioria das esquerdas no parlamento, será bom que o Bloco o imite nessa sensatez.
2. Em Espanha Mariano Rajoy está bastante enganado se pensa ter passado do purgatório para o celestial paraíso. A sua rejeição junto dos compatriotas é tão significativa, que Pedro Sanchez agiu com grande inteligência ao renunciar ao cargo de deputado. É que perdendo a tribuna parlamentar, poderá ter ganho a do próprio partido, resgatando-o da linha seguida pelos pupilos de Felipe Gonzalez, cujo envelhecimento está longe de significar a assumpção de uma maior sageza.
Custa-me constatar como certos socialistas mostram-se incapazes de analisar as dinâmicas do que se vai passando um pouco por toda a Europa traduzidas na irrelevância dos dispostos a deitarem-se na mesma cama com os mais empedernidos neoliberais, e no lento, mas sustentado crescimento de quantos regressam às matrizes identitárias e olham para as relações de forças em cada sociedade de acordo com o estado presente da luta de classes.
3. Na sua crónica dominical do «Jornal de Notícias», Manuel Carvalho da Silva dá uma explicação plausível para o nervosismo de Schäuble ao fazer do governo português o seu ódio de estimação. É que as mudanças eleitorais na Alemanha, constatadas em sucessivas eleições para os seus diferentes Estados, tornam plausível a séria possibilidade de uma grande coligação capaz de unir o SPD, o Die Linke e os Verdes a médio prazo. Ela já existe em Berlim, e pode extravasar da capital para o conjunto do território germânico. Em tal situação, o partido de Schäuble e de Merkel ficaria numa situação semelhante ao do PSD português: sem líder carismático, ver-se-ia condenado a longa travessia do deserto. Algo que começa a perspetivar-se em Portugal onde o semanário de Balsemão, já equaciona a possibilidade de ver esta solução governativa para além de 2019, cobrindo os eventuais dois mandatos de Marcelo na presidência.
4. Não surpreende que o referido semanário comece a distanciar-se progressivamente de Passos Coelho e a promover a eventual candidatura de Rui Rio ao seu lugar. Com pertinência, o seu diretor, Pedro Santos Guerreiro, interroga-se sobre os paradoxos do discurso político do suposto líder da Oposição. “Passos dizer frases como ‘o país está bastante pior, embora as pessoas não estejam ainda bem conscientes disso’, assenta no raciocínio que levou Luís Montenegro a afirmar uma vez que ‘a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor’: o de que as pessoas nunca sabem a realidade. O que é a realidade de um país senão as pessoas?”
Michelangelo Pistoletto
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