Há um ano acreditava que as eleições iriam possibilitar uma viragem significativa ao rumo então seguido pelo governo da direita.
Ao princípio da noite, quando saíram as sondagens à boca das urnas - estava a regressar a casa vindo da secção de voto onde cumprira papel de escrutinador - temi ver repetida a desilusão de trinta anos atrás, quando Cavaco conseguiu a primeira maioria absoluta. Nessa altura, também no regresso das secções de voto da Costa da Caparica, partilhei com outro camarada os tempos muitos difíceis, que se anunciavam.
Por isso mesmo andei de feições crispadas até as nuvens negras começarem a dissipar-se com as sucessivas declarações de Jerónimo de Sousa e de Catarina Martins a anunciarem aquilo que só nos sonhos mais psicadélicos conseguiria imaginar.
Meia dúzia de semanas depois, passada a tragicomédia fomentada por Cavaco sobre o tal governo da direita negado pela maioria parlamentar e as resistências em chamar António Costa para formar governo, consegui ver concretizado o que esperava desde o advento da Democracia: todas as esquerdas a convergirem para o objetivo de fazerem cessar o rumo destruidor, que a direita teimava em impor ao país. Não era uma reedição das heroicas Frentes Populares de outras latitudes e épocas, mas tinham delas alguns resquícios encorajantes.
Um ano depois, o governo conseguiu repor vencimentos, criar condições para investimentos associados aos fundos comunitários, normalizar as disfuncionalidades nos sistemas de Educação e da Saúde e estabilizar o setor financeiro.
Não se cumpriram as previsões iniciais mas quem poderia imaginar a conjuntura internacional caracterizada por um arrefecimento global da economia europeia, que tem dificultado os almejados progressos no crescimento, no emprego e nas exportações? Mas, em compensação, não foi necessário nenhum orçamento retificativo, cuja execução tem sido escrupulosamente respeitada. Confirma-se que, também no incumprimento das suas previsões, a direita constitui o exato oposto do que tem sido tónica do governo socialista.
Em breve a entrar no seu segundo ano de existência, caberá a António Costa implementar as políticas necessárias para superar os constrangimentos inerentes à criação do euro, ao alargamento da União Europeia aos países de Leste e à globalização. São esses os desafios contidos na Agenda para a Década cuja pertinência continua a ser absolutamente atual.
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