Deveremos espantar-nos por Passos Coelho manter a Caixa Geral de Depósitos nas primeiras páginas dos jornais alimentando uma campanha contra a sua Administração? Claro que não, tendo em conta a sua confessada intenção em privatiza-la, só não o tendo conseguido durante os quatro anos do seu (des)governo por não haver quem, durante a crise financeira subsequente a 2008, estivesse verdadeiramente interessado em dela se apossar. Ou, mesmo que o houvesse, não seria fácil convencer os portugueses de quaisquer vantagens dessa intenção, ou não tivesse tido uma amostra do que o esperaria quando tudo fez para, reiteradamente, entregar a TAP a privados.
A Caixa Geral de Depósitos é um espinho atravessado na garganta do ainda líder do PSD, e se puder criar-lhe dificuldades tanto melhor. Daí interessar-lhe que a polémica com António Domingues se prolongue por muito tempo, esperando que as redes sociais continuem a explorar até à náusea a questão da justeza ou não dos seus ordenados.
Já surpreende constatar que os mais convictos defensores da atual maioria parlamentar lhe façam o favor e se deixem levar numa onda, que tem objetivos ideológicos indisfarçáveis.
Voltemos, pois, à revisão da matéria dada.
Queremos uma CGD reestruturada e fortalecida para servir a política desenvolvimentista do governo e ajudar a uma regulação mais eficiente do setor da banca?
Queremos uma CGD gerida por quem é competente para alcançar esses objetivos e possui o curriculum irrepreensível face aos requisitos impostos pelo BCE, que os Tratados nos obrigam a respeitar?
Queremos uma CGD já liberta do acordo do defunto arco da governação, que ditava a nomeação de quem ia para a sua Administração para servir os amigos em vez de corresponder aos imperativos da boa gestão pública?
Creio que quase todos os defensores da atual solução governativa respondem afirmativamente a estas questões e aceitam a necessidade de ver a nova Comissão Executiva com a calma necessária para desatar os nós ali enrodilhados pelos antecessores. Por isso justifica-se que, pelo menos nos próximos meses, se cumpra a regra do no news, good news!
Embora eu não seja dos que dê facilmente um cheque em branco a quem quer que seja, julgo que muitos dos que agora têm manifestado incompreensão pela escolha de António Costa, andaram a pôr nas redes sociais o «Confio!» com que, durante semanas, manifestaram o seu apoio à solução governativa atual.
Não acredito que tenham encontrado até aqui qualquer razão para se arrependerem dessa propalada confiança. Pelo contrário: tudo quanto António Costa propôs fazer no sentido de devolver rendimentos às famílias e criar condições para mudar positivamente o país, tem sido feito e preparado. Porque deixaria agora de ter razão com a escolha da Administração da CGD e com as remunerações em causa para prosseguir os objetivos definidos?
Foi o Pedro Marques Lopes quem lembrou a intervenção de Mário Centeno na Comissão Parlamentar em que ele terá evocado o célebre quadro do Herman José (“Eu é mais bolos!”) para justificar a escolha de António Domingos.
De facto, a não ser Passos Coelho, quem desejaria ver a Caixa Geral de Depósitos entregue a quem perceberia mais da confeção de bolos do que gerir tão desafiante tarefa?
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