A contestação a que António Costa se anda a sujeitar por causa dos vencimentos dos administradores da Caixa Geral de Depósitos está a constituir um bom exemplo da aliança tática entre a demagogia de uns e a ignorância de outros. A verdade é que, até dentro do Partido Socialista há quem considere imoral essa retribuição à equipa de António Domingues, como se bastasse pegar nalguns altos quadros da própria instituição e dar-lhes a incumbência de tirá-la do fosso para que a empurraram anos sucessivos de más gestões, algumas delas provavelmente orientadas para a criação da inevitabilidade dela ter de vir a ser privatizada.
Primeira questão que nos devemos colocar: qualquer alto quadro bancário pode aceder à Administração de um banco da dimensão da Caixa Geral de Depósitos. Resposta: rotundamente não!
Quem tiver intenção de fazer carreira na banca deve começar por se sujeitar aos vários níveis de certificação do CFA, que significa Chartered Financial Analyst, que implica vários anos na profissão, muito estudo e a sujeição a exames extremamente especializados.
Só com essa e outras certificações é que o Banco Central Europeu permite que tais nomeações sejam aprovadas, como se viu em vários casos previstos na proposta inicial do governo, que receberam apreciação negativa ou a necessidade de se certificarem com mais horas de formação especializada.
Quem anda a querer equiparar salários de tais administradores aos do primeiro-ministro não sabe, pois, do que está a falar e põe em causa o que é atualmente fundamental: recuperar o Banco e torná-lo ferramenta imprescindível da sustentabilidade do sistema financeiro nacional sob a exclusiva dependência do governo.
É essa possibilidade que os demagogos e os ignorantes, que sobre esse assunto se manifestaram, não querem entender. E cria-se então espaço para a segunda pergunta: que interesses estão a defender esses que decidiram criar ruído sobre matéria tão delicada? São só ignorantes ou pretendem efetivamente facilitar a vinda do tal Diabo, que chegou a estar prometida para setembro?
Como defendeu, e muito bem, João Galamba nos ecrãs da SIC Notícias, se as pessoas acham exagerado um vencimento de 30 mil euros, que é o da média das instituições bancárias privadas com quem a CGD irá competir, que exijam uma carga fiscal mais elevada para tais remunerações para que seja por essa via que se reequilibram os pratos da balança. Porque, nessa situação, os impostos que a equipa de António Domingues iria pagar seriam similares aos dos seus colegas do Santander, do Millenium ou do BPI com que devem ser equiparados.
Ao contrário do que alguns andam a defender nas televisões e nas redes sociais, este é um exemplo lapidar de como a razão de António Costa deve, de facto, sobrepor-se à da aparente maioria que por esta via encontrou matéria para o contestar.
(Patrick O'brian)
Sem comentários:
Enviar um comentário