O que mais me aborrece nos impostos que pago é saber que uma parte deles resulta das evasões fiscais dos que compartilham a ideia trumpiana de que não cumprir esse dever constitui prova manifesta de esperteza. O que pago é manifestamente bem mais do que aquilo que me caberia pagar se todos cumprissem com a sua obrigação. Ou, mesmo que continuasse a pagar o mesmo, teria a satisfação de saber que esse dinheiro seria aplicado mais proveitosamente na sustentabilidade do nosso Estado Social.
Daí que não possamos ficar indiferentes ao facto de muitos dos grandes escritórios de advogados, quer de cá, quer no estrangeiro, possuirem aqueles especialistas em direito fiscal, que não só procuram alterar a legislação de modo a favorecer os seus endinheirados clientes, como lhes encontra forma de branquearem muitos dos seus capitais nos famigerados paraísos, cuja extinção tarda.
Mas esta indignação com tal gente explica-se pela notícia deste fim-de-semana demonstrativa daquilo a que o Hermínio Cerqueira qualifica de padrão dentro do que vamos conhecendo na direita, e no PPD em particular. De facto aquele que, ainda há poucos anos, dizia ainda ter de nascer quem fosse mais honesto do que ele, foi capaz de uma fraude fiscal de todo o tamanho ao declarar para as Finanças uma moradia, que nunca existiu e que valia cerca de metade daquela que era verdadeiramente a sua. E não pode alegar que não o fez voluntariamente, porque as datas são explicitas. Assim, em 2000, declarou que a moradia «Gaivota Azul», na Praia da Coelha (Albufeira) tinha 252 m2 de área coberta e 1634 m2 de área descoberta. Ora, a licença de construção, datada de 1994, já previa uma moradia em dois pisos com 318 m2.
Constata-se, assim, que Cavaco Silva dispunha de um documento oficial em que a área era maior e mesmo assim quis iludir as Finanças para pagar menos impostos.
Mas a falcatrua de Cavaco não se ficou por aí já que, segundo a caderneta agora conhecida, ele não cumpriu o previsto na licença em causa, construindo uma moradia com 464 m2 de área de implantação e 620 m2 de construção em três pisos.
Resultado durante quinze anos andou a pagar bem menos do que deveria, pois em 2016 (e mesmo com a taxa bonificada da Câmara respetiva) a fatura foi de 1372 euros, quando em 2010 andava a pagar 797.
É por essas e por outras, que bem compreendo a nega de Marcelo a respeito da proposta do Governo sobre a emissão de alertas para quem tem contas acima dos 50 mil euros. Quantos cavacos terão pressionado Marcelo para obstaculizar uma tímida tentativa de ir mais além nessa injustiça de todos quantos recebem ordenados e pensões de reforma cumprirem os seus deveres fiscais e os que são “criativos” na obtenção de rendimentos mais comprometedores os possam isentar sem grandes dificuldades?
É claro que o atual Presidente da República foi eleito para proteger os trânsfugas do costume e iludir os incautos, que ainda dele vão comendo as papas e bolos.
Sem comentários:
Enviar um comentário