Li num blogue que vítor gaspar nem sequer mereceu a condição de grandolado. O riso, de facto, consegue ser uma arma terrível, quando - como é o caso! - é utilizado. Porque trata-se de um riso de escárnio, de mal dizerpara quem representa o pior deste malfadado (des)governo, que nos troca as voltas às mais elementares expectativas de bem viver.
E, no entanto, dia após dia, mês após mês, os números oficiais vão desmentindo qualquer bondade, que se pudesse esconder por trás de tanta perfídia: o termo escolhido por Baptista Bastos para a sua crónica no «Diário de Notícias» em que afiança que na história da democracia portuguesa nunca tão poucos fizeram tão mal a tantos. Ao mesmo tempo que a cegada política transforma as nossas monumentais perplexidades numa exasperada interrogação: que mais nos irá acontecer? O rol de indignidades é extenso e não deixa de aumentar: mentiras, omissões, faltas à palavra e aos compromissos, desprezo por todos nós, ocultação de factos e de decisões, por aí fora. (…)
A coligação deixou de o ser há muito tempo. É um conjunto mal remendado de interesses, e um concentrado de servilismo a conveniências estrangeiras. A palavra perfídia anda perto.
Agora novos indicadores vieram, uma vez mais, corroborar o que já há muito se concluiu: o PIB caiu 3,9% no primeiro trimestre, face ao mesmo trimestre de 2012, o recuo mais significativo desde que a austeridade necessariamente recessiva começou há já muitos trimestres atrás.
Perante este descalabro a pergunta de Baptista Bastos faz todo o sentido: que mais nos irá acontecer?
Eduardo Cabrita, no «Correio da Manhã», resume liminarmente o ponto a que chegámos: A troika, impotente perante a insubordinação da taxa de desemprego, a rarefação do PIB e a fadiga fiscal, chegou à realidade virtual em que quer ser enganada não parecendo. É preciso ter bons alunos até às eleições alemãs e poupar Gaspar à fúria dos colegas de Governo e à excomunhão pelas bases de uma direita em pânico.
Mas, passadas as eleições alemãs, pouco mudará se não forem os povos atormentados pela austeridade pura e dura a travar-lhe o caminho.
Há quase quarenta anos a História registou a existência de um «Verão Quente», que desmentiu a possibilidade de utopicamente se poder exigir o impossível. Agora esse mesmo impossível já não se resume a um conjunto de princípios muito bonitos pelos quais pode ser quixotesco lutar. Nesta altura, para muitos - funcionários públicos, reformados, pensionistas e desempregados - conquistar o impossível significa ganhar o direito à sobrevivência, a uma vida digna, em que o trabalho seja verdadeiramente um direito a que estejam associados os outros direitos fundamentais em tempos enunciados numa canção do Sérgio Godinho - o pão, a paz, saúde, educação!
Estamos mesmo na altura para recuperarmos as fórmulas durante tanto tempo esquecidas e indagar se, de facto, debaixo das pedras da calçada não existirá, de facto, a bonançosa praia por que todos suspiramos!
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